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Gaza dribla bloqueio israelense e desenvolve aplicativos para todo o mundo

Dono de empresa ressalta a necessidade de ajudar a população e gerar empregos

Agência France-Presse
postado em 20/05/2015 19:31

São dezenas teclando, examinando dados, codificando. Nada diferente do que fazem os outros programadores, salvo que esses trabalham em uma pequena empresa na Faixa de Gaza, onde, apesar do bloqueio israelense, desenvolvem aplicativos para smartphones vendidos ao redor do mundo.

"Aqui, abrimos uma brecha no bloqueio e mostramos que os habitantes de Gaza são capazes de fazer grandes coisas", afirma, entusiasmado, Saady Lozon, co-fundador da Unit One, empresa de pequeno porte que começa a crescer.

Em 2005 ele fundou, ao lado de outro engenheiro da computação, "uma pequena start-up, numa sala minúscula" na Faixa de Gaza, onde, assim como no restante do território ocupado, não existe rede de 3G palestina.

Dez anos depois, empregam uma centena de funcionários, a maioria jovens mulheres, e conseguiram contratos para desenvolver programas de computador e aplicativos para smartphones nos países do Golfo e na Europa.

Comércio, não ajudas
"Em Gaza não temos petróleo nem gás, mas temos recursos humanos: muitos jovens que estão apenas à espera de uma oportunidade", garante Saady enquanto passeia pelas filas de jovens que inserem analisam dados nos computadores.

Recrutar mulheres é "uma responsabilidade social", garante o empresário. E o próximo passo é contratar pessoas com deficiência. As três ofensivas israelenses em Gaza nos últimos seis anos deixaram muitas pessoas amputadas.

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Mas "Gaza não é só guerra, sangue e bombas", insiste Saady. "Os moradores de Gaza querem comércio, não receber ajuda humanitária". A prova para ele é que, ao divulgar dez postos de emprego, receberam respostas de 400 candidatos.

Pouco depois, uma jovem entra pela porta, aconselhada por sua universidade. Aos 21 anos, Ayubi Sadin vai se formar em alguns meses, mas preferiu se adiantar para escapar do desemprego que afeta dois terços dos jovens de Gaza.

"A maior parte dos jovens é formada, mas não encontram emprego", conta a palestina.

Para Lina, de 23 anos, há três trabalhando na Unit One, a culpa é da "situação política e econômica", em referência ao bloqueio israelense e às guerras sucessivas no enclave, atualmente nas mãos do movimento islamista Hamas.

A última ofensiva israelense em meados de julho deixou a economia da Faixa de Gaza em frangalhos - a mais instável do mundo, segundo o Banco Mundial.

Cerca de 130 empresas e oficinas foram arrasados durante a operação "Margen Protector", segundo a Federação Palestina da Indústria.

Sair graças à Internet
Para Choruq al Mughrabi, uma jovem colega de Lina, é difícil "sobretudo para as meninas", em uma sociedade onde as mulheres só representam 20% da população ativa.

Na sala ao lado, Mohamed el Bana, de 27 anos, desenvolve programas informáticos. Preso no enclave, como 1,8 milhões de outros palestinos - bloqueados ao norte pelos postos de controle israelenses e ao sul, na fronteira com o Egito fechada pelo Cairo -, se interessou pela internet, já que é "o único canal que os judeus não podem tirar da gente".

Na Unit One, o contato com o exterior nunca foi interrompido, mas a eletricidade é cortada todos os dias por várias horas. Portanto, eles tiveram de investir em um sólido equipamento de baterias e geradores para dar conta dos pedidos a tempo.

"Mesmo durante a guerra, continuamos a trabalhar em alguns dias", garante Saady. É a sua maneira de tranquilizar os clientes, "às vezes relutantes à ideia de assinar contratos com uma empresa sediada num território de guerra".

Clientes com quem ele nunca teve a oportunidade de se reunir pessoalmente - as reuniões são feitas por Skype.

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