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França leva ao Panteão heróis da Resistência, entre eles duas mulheres

A eleição das personalidades consideradas dignas do Panteão é feita pelos presidentes franceses, o que permite manifestar sua própria visão da história e da "grandeza"

Agência France-Presse
postado em 26/05/2015 16:09

A eleição das personalidades consideradas dignas do Panteão é feita pelos presidentes franceses, o que permite manifestar sua própria visão da história e da

Paris - O presidente francês, François Hollande, vai exaltar nesta quarta-feira o "espírito da Resistência" na cerimônia de entrada no Panteão, local onde a França honra os grandes personagens que marcaram sua história republicana, de quatro heróis da luta contra a ocupação nazista, entre eles duas mulheres.

Os resistentes Germaine Tillion, Genevi;ve de Gaulle-Anthonioz, Pierre Brossolette e Jean Zay serão homenageados como grandes figuras da cultura e política francesa, como, entre muitos outros, Voltaire, Victor Hugo e Jean Jaur;s, nesse templo laico no Quartier Latin, em Paris. A cerimônia de entrada no Panteão acontecerá no Dia Nacional da Resistência.



François Hollande pronunciará, segundo seus colaboradores, um "importante" discurso em que vai exaltar a unidade da Nação e invocar o "espírito da Resistência".

A eleição das personalidades consideradas dignas do Panteão é feita pelos presidentes franceses, o que permite manifestar sua própria visão da história e da "grandeza". Setenta e uma personalidades, políticos, filósofos, escritores e cientistas repousam atualmente nesse monumento mais visitado pelos turistas estrangeiros do que pelos próprios franceses.

Com a vontade de "fazer a entrada do povo" no Panteão, François Hollande decidiu inovar elegendo quatro pessoas de uma vez, com uma igualdade simbólica, dois homens e duas mulheres.

Serão honradas quatro pessoas "que encarnaram os valores da França quando o país estava prostrado", disse Hollande no ano passado em uma cerimônia em memória da Resistência.


Dois caixões sem corpos

Genevi;ve de Gaulle-Anthonioz e Germaine Tillion farão companhia às duas únicas mulheres que têm um lugar até hoje nesse Panteão de esmagadora maioria masculina: a cientista polonesa-francesa Marie Curie e outra cientista, Sophie Berthelot, esposa de Marcellin Berthelot e transferida para o monumento ao mesmo tempo que o marido.

Genevi;ve de Gaulle-Anthonioz (1920-2002), sobrinha do general de Gaulle, e Germaine Tillion (1907-2008) participaram da rede de resistentes denominada o "Museu do Homem", criada em julho de 1940, poucos dias depois da entrada das tropas alemãs em Paris.

Foram detidas em datas diferentes e deportadas para o campo de Ravensbrück (Alemanha). Ambas sobreviveram. A primeira foi tempos depois uma decidida militante contra a pobreza à frente da associação ATD Quart Monde, e a segunda uma etnóloga de renome.

Pierre Brossolette (1903-1944), intelectual e jornalista, foi um dos líderes da Resistência. Detido e torturado pela Gestapo, se suicidou para evitar falar sob tortura.

Jean Zay, (1904-1944), ministro da Frente Popular em 1936, foi um dos parlamentares que foram para África do Norte em junho de 1940 para formar ali um governo no exílio e continuar a luta, quando o novo governo do marechal Philippe Pétain decidiu se render. Detido, foi julgado por "deserção". Objeto de vingança dos colaboradores por sua origem judia, foi assassinado duas semanas depois do desembarque aliado na Normamdia.

Os caixões de Germaine Tillion e Genevi;ve de Gaulle-Anthonioz serão instalados no Panteão sem seus restos, a pedido de suas famílias, que preferem que eles continuem nos cemitérios em que foram enterrados.

O caso não é novidade. O poeta e político da Martinica Aimé Césaire, militante anticolonialista e antirracista morto em 2008, "entrou no Panteão" em 2013. Mas, cumprindo sua vontade, seu corpo continua enterrado em sua ilha natal nas Antilhas.

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