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Estudantes do Chile protestam contra reforma educacional 'insuficiente'

Um grupo de universitários ocupou por algumas horas a entrada da Televisão Nacional do Chile, estatal, e durante a noite está prevista uma marcha também pelo centro de Santiago


Agora, no entanto, o cenário é diferente. A presidente Michelle Bachelet pôs em andamento uma ambiciosa reforma educacional que a partir do próximo ano significará a gratuidade para 260.000 estudantes de educação superior.

Mas para os estudantes a promessa de reformar completamente o que é considerado um dos sistemas mais segregados e desiguais do planeta ainda está longe de ser cumprida.

"Ainda estamos muito distantes de alcançar nossos sonhos. A reforma é muito insuficiente", disse Claudia Arévalo, porta-voz dos estudantes de ensino médio.


Faltam os detalhes da reforma

Bachelet, que venceu a reeleição precisamente com a promessa de levar adiante a reforma educacional, já conseguiu a aprovação de uma lei que elimina a seleção de estudantes e proíbe a obtenção de lucros nas escolas que recebem dinheiro do Estado.

Recentemente, ela enviou ao Congresso uma lei que aumenta em 28% o salário dos professores que se beneficiam de um novo regime docente, e há uma semana anunciou que a partir do próximo ano 60% dos estudantes mais pobres da educação superior obterão a gratuidade total.



Mas ainda não deu indícios de como responderá à promessa de melhorar a qualidade nas escolas públicas e estabelecer, a partir de 2018, a gratuidade universal na educação superior.

"Ainda é preciso conhecer muitos detalhes da reforma, e o que já foi anunciado é menos do que o movimento estudantil demandou", explicou Manuel Sepúlveda, diretor de política educacional da fundação "Educación 2020".

Em um país onde não é possível cursar uma universidade gratuitamente e no qual atualmente apenas 40% da matrícula escolar é pública, as exigências dos estudantes seguem tendo uma grande adesão.

Neste ano, os estudantes organizaram duas marchas que reuniram no centro de Santiago 100.000 pessoas cada uma."Os problemas são profundos. Quanto mais precisaremos esperar?", se perguntou Arévalo.


Repressão policial

Os estudantes também denunciam uma forte repressão policial durante suas manifestações, como no caso de Rodrigo Avilés, gravemente ferido depois de cair no chão ao ser atingido pelo jato d;água lançado pelas forças especiais em uma manifestação no porto de Valparaíso.



Nesta quinta-feira, a polícia voltou a usar canhões d;água e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestações de estudantes não autorizadas pelo centro de Santiago, nas quais pessoas encapuzadas agrediram com pedras e paus os agentes policiais e destruíram patrimônio público, em uma dinâmica que se repete na maioria das manifestações.

"Não apenas entendemos, mas respeitamos o direito dos cidadãos de se expressar, mas ao mesmo tempo acreditamos que os chilenos não querem que as manifestações se convertam em destruição", disse o porta-voz oficial, Marcelo Díaz.