Agência France-Presse
postado em 03/06/2015 19:03
Abuja, Nigéria - A Anistia Internacional (AI) voltou a pedir ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que acuse de crimes de guerra os comandantes do Exército nigeriano envolvidos na luta contra o Boko Haram - de acordo com um relatório divulgado nesta quarta-feira (3/6) e imediatamente rejeitado pela corporação.Em nota, o porta-voz do Exército nigeriano, Chris Olukolade, acusou a ONG de servir a determinados interesses políticos, com um relatório "partidário e inventado". Segundo ele, "nenhuma das acusações contém provas suficientes contra aqueles que a Anistia Internacional tanto busca condenar".
Para elaborar este relatório de 133 páginas, intitulado "Galões sobre os ombros, sangue nas mãos", a Anistia disse ter realizado centenas de entrevistas, em especial com membros das Forças Armadas nigerianas, além de ter tido acesso a documentos do Ministério da Defesa desse país.
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"As Forças Armadas nigerianas fizeram mais de 1.200 execuções extrajudiciais. Prenderam pelo menos 20 mil pessoas de maneira arbitrária, em sua maioria homens jovens e adolescentes, e cometeram inúmeros atos de tortura", denuncia o texto.
"Centenas, talvez milhares, de nigerianos foram vítimas de desaparecimentos forçados. E pelo menos sete mil deles morreram de fome, por falta de assistência médica, ou em consequência das condições de superlotação carcerária", acrescenta a ONG.
A AI "estima que esses atos (...) constituem crimes de guerra" e "aponta em particular para cinco comandantes do Exército encarregados das operações no nordeste do país e para dois chefes do Estado-Maior militar, assim como outros dois da Defesa, cuja responsabilidade individual e hierárquica estariam comprometidas e deveriam ser investigadas".
Segundo a organização, todos os nomes foram entregues ao TPI.
No relatório, a Anistia defendeu que esses chefes do Estado-Maior, que fica em Abuja, "deveriam ser alvo de uma investigação quanto a sua potencial responsabilidade hierárquica em crimes cometidos por seus subordinados, já que sabiam, ou deveriam saber, que esses crimes foram cometidos, e não tomaram as medidas apropriadas".
O TPI já iniciou uma investigação preliminar sobre a insurreição do Boko Haram, que deixou pelo menos 17 mil mortos desde 2009, segundo a Anistia.