Agência France-Presse
postado em 07/06/2015 10:28
Os turcos votavam neste domingo (7/6) em eleições legislativas determinantes para o futuro do presidente islamita conservador Recep Tayyip Erdogan, que espera uma ampla vitória de seu partido para reforçar seu poder, cada vez mais criticado no país.Os colégios eleitorais fecharam às 17h00 locais (11h00 de Brasília), ao término de um dia marcado por uma forte participação, apesar de um atentado com bomba que deixou na sexta-feira dois mortos e mais de uma centena de feridos durante um comício do principal partido curdo em seu reduto de Diyarbakir (sudeste).
Os resultados serão divulgados ainda esta noite e devem dar uma nova vitória ao Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), que venceu todas as eleições em 13 anos.
O partido islamita conservador se apresentava pela primeira vez debilitado ante os eleitores, vítima do declínio da economia e das críticas por seu autoritarismo.
As últimas pesquisas davam a ele entre 40% e 42% dos votos, muito abaixo de seus resultados de 2011 (49,9%).
Depois de 11 anos como primeiro-ministro, Erdogan foi eleito chefe de Estado em agosto passado e devolveu em teoria as chaves do executivo e do partido ao seu sucessor, o ex-ministro das Relações Exteriores Ahmet Davutoglu.
No entanto, decidido a manter as rédeas do país, milita desde então por uma presidencialização do regime e um fortalecimento de seus poderes.
Apesar das críticas, o chefe de Estado fez abertamente uma campanha por sua reforma e seu partido, indo contra a Constituição, que lhe impõe um rígido dever de neutralidade.
Para alcançar seu objetivo, Erdogan precisa de uma ampla vitória eleitoral. Se o AKP conseguir dois terços (367) dos 550 assentos de deputados, poderá votar sozinho a reforma constitucional para reforçar os poderes do chefe de Estado. Se obtiver apenas 330 deputados, poderá submetê-la a referendo. Caso contrário, suas ambições serão frustradas.
"A participação é elevada, é um bom sinal para a democracia", comemorou o chefe de Estado ao votar em Istambul. "A Turquia mostra sinais de estabilidade e confiança", acrescentou.
"Não confio mais neles"
Erdogan continua sendo muito popular no país. "Votei novamente (no AKP) porque quero que a Turquia seja dirigida por um presidente forte", disse à AFP Mehmet Kose, de 50 anos, vendedor de frutas em Istambul.
No entanto, embora seja preciso encará-las com prudência, as pesquisas sugerem que Erdogan pode perder sua aposta.
"Votei pelo AKP nas eleições anteriores porque fizeram um bom trabalho. Mas não confio mais neles", disse Murat Sefagil, de 42 anos, outro eleitor de Istambul.
O principal partido curdo, o Partido Democrático do Povo (HDP), constitui o principal obstáculo no caminho de Erdogan.
Se obtiver mais de 10% dos votos, o mínimo exigido para entrar no Parlamento, o HDP conquistaria meia centena de assentos e privaria o AKP da maioria desejada.
De esquerda, moderno e preocupado com as minorias, o partido curdo é liderado por um quarentão carismático, Delahattin Demirtas, que espera aproveitar seu papel chave nestas eleições para ampliar seu público tradicional.
"Votei pelo HDP porque é um partido dinâmico capaz de fornecer uma mudança real", declarou Hazal Ozturk, de 19 anos, que votava pela primeira vez em Istambul.