Agência France-Presse
postado em 09/06/2015 16:11
Ancara - A Turquia anunciou na segunda-feira à noite ter convocado o seu embaixador no Brasil depois de uma resolução, descrita como "irresponsável" pelo seu ministério das Relações Exteriores, aprovada pelo Senado desse país reconhecendo o genocídio armênio de 1915. Esta convocação segue as das últimas semanas, pelas mesmas razões, dos embaixadores turcos no Vaticano, na Áustria e em Luxemburgo."Condenamos a resolução do Senado brasileiro que distorce os fatos históricos sobre os eventos de 1915", disse o ministério em um comunicado, acrescentando que seu embaixador Hüseyin Diri;z havia sido "chamado para consultas".
A moção de solidariedade para com o povo armênio do Senado brasileiro, apresentada pelos senadores do PSDB, foi aprovada na terça-feira, dia 2 de junho, por 55 dos 88 senadores.
O governo da presidente Dilma Rousseff informou nesta terça que "lamenta" a decisão do governo turco de chamar para consultas seu embaixador, assim como os termos empregados no comunicado divulgado pela chancelaria turca após a votação do senado.
O embaixador turco em Brasília foi chamado no palácio do Itamaraty em 1; de junho, um dia antes da votação do Senado, e "recebeu amplas explicações sobre os procedimentos em curso no Senado, sobre o sentido do requerimento do Senado e sobre a tradicional posição do Brasil sobre este assunto, que permanece inalterada", informou a chancelaria brasileira em um comunicado.
"O Senado Federal agiu dentro de suas prerrogativas constitucionais e em consonância com o princípio de independência dos poderes consagrado na Constituição", insiste o texto do Itamaraty.
O ministério das Relações Exteriores brasileiro também ressaltou que tinha a expectativa de que as relações bilaterais entre a Turquia e o Brasil, "formalmente definidas como estratégicas, possam voltar em breve à normalidade completa."
O ministério disse que o governo brasileiro "se solidariza com a tragédia dolorosa dos armênios em 1915", no contexto da Primeira Guerra Mundial, mas recusou-se a falar de "genocídio".
A Turquia denuncia sistematicamente as declarações que descrevem como genocídio os massacres de centenas de milhares de armênios pelo Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, ou o desejo de reconhecê-lo.
Os armênios calculam que 1,5 milhão de pessoas morreram de maneira sistemática entre 1915 e 1917, os últimos anos do Império Otomano.
A Turquia rejeita essa versão e se refere a uma guerra civil em Anatólia, agravada por uma fome, na qual morreram entre 300.000 e 500.000 armênios e outros tantos turcos.
Além da Armênia, muitos historiadores e cerca de vinte países, incluindo França, Itália e Rússia, já empregam a palavra genocídio ao se referir a tais acontecimentos.