Agência France-Presse
postado em 10/06/2015 10:31
Um preso americano que passou 43 anos em uma cela de isolamento e que teve a libertação determinada na segunda-feira (8/6) por um juiz terá que esperar mais alguns dias na penitenciária, depois que a promotoria recorreu contra a decisão judicial. Albert Woodfox, 68 anos e ex-militante do movimento Panteras Negras (Black Panthers), tem o recorde de anos passados em isolamento em uma prisão americana, apesar de sua condenação - por um assassinato que ele sempre negou - ter sido revogada duas vezes.O juiz federal James Brady ordenou na segunda-feira a libertação imediata e incondicional de Woodfox, mas o promotor do estado da Louisiana recorreu da decisão e Woodfox deve permanecer na prisão pelo menos até sexta-feira.
Woodfox foi colocado em um cela de isolamento, assim como outros dois presos, pelo assassinato de um guarda durante uma rebelião em 1972 na tristemente célebre penitenciária de Angola, que abriga mais de 5.000 detentos no estado de Louisiana. Ele é o último integrante do grupo conhecido como "Angola 3" que permanece preso. Herman Wallace morreu de câncer em 2013, poucos meses depois de sua libertação, e Robert King saiu da prisão em 2001.
Os três integravam os ;Black Panthers;, um movimento radical que lutou, algumas vezes de forma violenta, contra a discriminação racial nos anos 1960 e 1970.
[SAIBAMAIS]Woodfox sempre alegou inocência e cita uma testemunha que afirma que ele não participou no assassinato, assim como os exames científicos que o absolveram e um teste de polígrafo que confirmou a veracidade de suas palavras. "Algumas provas que respaldam as afirmações de Woodfox sobre sua inocência dão a este tribunal ainda mais motivos para questionar as duas condenações anteriores", declarou o juiz Brady.
A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional, que defendeu a causa dos três homens durante anos, celebrou a decisão de libertar Woodfox em um comunicado.
"Este homem de 68 anos sofreu um tratamento intoleravelmente cruel na prisão enquanto lutava para revogar a declaração de culpa de um crime do qual sempre alegou que era inocente. Depois de dois julgamentos repletos de falhas e de atos judiciais que duraram décadas, nos quais a declaração de culpabilidade foi revogada por cortes federais e estaduais, por fim obtém a liberdade que merece", afirma um comunicado da AI.
Em novembro do ano passado, um tribunal de apelação já havia ordenado a libertação de Woodfox, mas a decisão foi revogada em fevereiro por uma decisão federal.
Brady alegou "circunstâncias excepcionais" para justificar uma libertação imediata e incondicional de Woodfox, entre elas sua idade, os problemas de saúde, os danos provocados por mais de 40 anos em isolamento e o fato de ter sido julgado duas vezes por um crime ocorrido em 1972.
A Anistia Internacional destacou que a decisão sobre Woodfox "deveria estimular as autoridades americanas a debater o uso cruel e extremo da reclusão em regime de isolamento".
As políticas do regime penitenciário dos Estados Unidos que permitem o isolamento total de alguns presos foram questionadas por alguns congressistas e organizações de defesa dos direitos humanos.