Agência France-Presse
postado em 10/06/2015 12:47
Cidade do Vaticano - Os bispos que foram responsáveis %u200B%u200Bpor proteger padres pedófilos serão julgados por um novo tribunal criado no Vaticano pelo papa Francisco, uma reivindicação de longa data das associações de vítimas.Os bispos - que são mais de 5.000 no mundo - poderão ser julgados em caso de "abandono do dever profissional" sob o direito canônico, por esta "nova instância judicial vinculada à Congregação para a Doutrina da Fé" (CDF).
A CDF, o ex-Santo Ofício, é responsável por garantir em toda a Igreja o respeito ao direito canônico.
O Papa ordenou a nomeação de pessoal adicional para as novas funções, indicou o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, que falou após uma reunião do conselho de cardeais (C9), responsável por conduzir as reformas na Igreja.
Francisco prevê um período de cinco anos para avaliar a "eficiência" do novo dispositivo.
Estas pessoas "também poderão ser empregadas para os julgamentos criminais em casos de abuso de menores e adultos vulneráveis %u200B%u200B(deficientes) pelo clero", indicou o Vaticano.
Associações de ex-vítimas de padres pedófilos exigem há tempos que o fato de um bispo encobrir abusos sexuais contra de menores cometidos por padres de sua diocese seja reconhecido como um crime e punido pelo Vaticano.
Escândalo duplo
Condenado firmemente pelo Comitê dos Direitos da Criança da ONU, o escândalo dos padres pedófilos contribuiu para desacreditar a Igreja católica por delitos ocorridos principalmente nos anos 60 e 70.
O escândalo foi duplo: dezenas de milhares de menores foram atacados por religiosos, padres e freiras. Mas dezenas de bispos também se recusaram a ouvir as reclamações das vítimas, por vezes, pedindo-lhes silêncio, protegendo os padres acusados %u200B%u200Bou suspeitos, e mantendo-os em posições onde pudessem continuar suas atividades.
O Vaticano foi então acusado de proteger alguns desses bispos para evitar escândalos.
O papa Bento XVI pediu em 2011 a todas as conferências episcopais a adotar dispositivos para parar esses escândalos e colaborar com os poderes judiciais civis.
Mas enquanto alguns episcopados ocidentais adotaram regimes rigorosos, outros ainda lutam para entrar em linha. Em algumas culturas, na África e na Ásia em particular, esses temas são um grande tabu e as justiças civis nem sempre são confiáveis.
As queixas contra os bispos serão recebidas em um primeiro momento pelas Congregações para os Bispos, para a Evangelização dos Povos e para as Igrejas Orientais, os três "ministérios" do Vaticano competentes para os bispos. Mas serão obrigadas a transmiti-las à Congregação para a Doutrina da Fé.
Desde janeiro, vários membros da Comissão para a proteção dos menores levantaram suas vozes sobre casos sensíveis envolvendo prelados.
O último caso fez muito barulho, por ter envolvido o cardeal australiano George Pell, o todo-poderoso "ministro" da Economia do Papa. Este último é acusado por uma ex-vítima de ter se recusado a levar a sério a sua reclamação contra um padre. O cardeal nega as acusações e ameaçou processar o autor das acusações, o especialista britânico Peter Saunders, ele próprio ex-vítima.
O outro caso diz respeito à nomeação de um bispo chileno, Juan de La Cruz Barros, por Francisco, quando acredita-se que ele protegeu no passado um velho padre acusado de pedofilia.
Julgamentos internos
Bento XVI e depois Francisco implantaram um dispositivo mais severo, mas as ex-vítimas criticam o fato de os julgamentos permanecerem internos e confidenciais.
Os casos dos padres pedófilos são julgados em última instância pela Congregação para a Doutrina da Fé.
"Durante essas décadas de crise, as comissões, os procedimentos, os protocolos e as promessas se multiplicaram. Mas eram sem sentido. Assim, por muito tempo, padres foram encarregados de se ocupar de outros padres que cometeram ou acobertaram crimes sexuais, então poucas coisas mudarão", reagiu em um comunicado a associação americana de ex-vítimas SNAP.