Bruxelas, Bélgica - A Grécia se prepara para apresentar novas propostas de reforma a seus credores, no sábado, que não hesitam mais em discutir um possível "default" no pagamento, se as negociações sobre a dívida grega não terminarem em breve.
A próxima reunião dos ministros das Finanças da zona do euro acontece em 18 de junho, data esperada para que se alcance um compromisso com os credores.
Segundo Atenas, uma delegação de alto nível chega amanhã a Bruxelas para apresentar "contrapropostas". O governo grego considera que as partes envolvidas "estão mais perto do que nunca de um acordo".
A delegação será composta pelo discreto chefe negociador do governo grego, Ioannis Dragassakis, pelo vice-ministro das Relações Exteriores, Euclide Tsakalotos, e por Nikos Pappaselo, braço direito do premiê Alexis Tsipras - relatou uma fonte grega.
Em 30 de junho, a Grécia deve pagar ao Fundo Monetário Internacional (FMI) 1,6 bilhão de euros, e ainda há dúvidas sobre a capacidade financeira do país de fazer frente a esse vencimento sem a liberação da parcela de ajuda financeira de 7,2 bilhões de euros, bloqueada há meses.
A liberação dessa ajuda depende da implantação de reformas, sobre as quais Atenas e seus credores - União Europeia (UE) e FMI - buscam um acordo há quase quatro meses.
As discussões se aceleraram, porém, nos últimos dias. Nesse intervalo, o primeiro-ministro Tsipras teve encontros seguidos com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, François Hollande, em Bruxelas.
As reuniões aconteceram em paralelo à cúpula entre a UE e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
Ontem, o premiê grego se reuniu com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que tem atuado como mediador nessas difíceis negociações. Ambas as partes concordaram em que é preciso trabalhar mais para tentar dirimir as divergências.
Discussões intermináveisTsipras e Juncker voltaram a conversar nesta sexta para fazer um balanço sobre o progresso das negociações, no momento em que a pressão sobre a Grécia se intensifica.
Entre os pontos mais duros da negociação, estão a reforma sobre aposentadorias, o aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) na energia elétrica e o nível de excedente primário no orçamento.
"As condições técnicas prévias de um acordo estão sobre a mesa", afirmou o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, que constatou "bastante progresso" nas discussões.
Em Bruxelas, porém, a sensação é de ambiguidade por parte do governo grego.
"Toda vez, a realidade encorajadora dos trabalhos técnicos está em descompasso com as declarações e posturas políticas, forçosamente mais duras", avaliou uma fonte que acompanha as negociações.
Essas discussões intermináveis parecem cansar os alemães, aponta uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira. Pela primeira vez, uma maioria (51%) se diz favorável à saída da Grécia da zona do euro.
"Um ;default; (grego) está em estudo", mas não é o mesmo que uma "Grexit", termo com que se evoca uma eventual saída da Grécia da zona do euro, desconversou uma fonte europeia consultada pela AFP.
"É para se preparar para pior dos cenários", defendeu outra fonte.
Essa possibilidade foi estudada em uma reunião preparatória do próximo encontro de ministros das Finanças da zona do euro, em Luxemburgo, que desde a quinta-feira é celebrada em Bratislava (Eslováquia).
Esse cenário derrubou a Bolsa de Atenas no pregão desta sexta (-5,92%) e afetou importantes praças do continente: Paris perdeu 1,41%; Frankfurt, 1,20%; e Londres, 0,90%.
"Temos de avaliar todas as possibilidades, mas espero que as autoridades gregas avaliem a situação", justificou o ministro lituano das Finanças, Rimantas Sadzius, confirmando que essa hipótese foi posta sobre a mesa.
Nesta sexta, o governo grego negou que essas discussões tenham acontecido, declarando que "isso não corresponde à realidade".
"A ideia é que haja um acordo antes da quinta-feira (...) Se os gregos trabalharem neste fim de semana e enviarem uma proposta na segunda-feira, pode funcionar. Se enviarem uma proposta na quarta-feira (...), será muito mais complicado" para o Eurogrupo, comentou uma fonte europeia.
Para o ministro grego da Defesa, Panos Kammenos, "será em 18 de junho, ou nunca", que o acordo será selado.
Um novo sinal das dificuldades da Grécia, a agência de classificação de risco Standard and Poor;s reduziu a nota de solvência de quatro grandes bancos gregos - Alpha Bank, Eurobank, National Bank of Greece e Piraeus Bank. Segundo a S, eles estariam ameaçados de quebrar.