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Rebeldes do Iêmen se negam a dialogar com governo no exílio em Genebra

"Rejeitamos qualquer tipo de diálogo com quem não tem nenhuma legitimidade. Pedimos um diálogo com a Arábia Saudita para deter a agressão", anunciou Mohamed Zubairi à imprensa

Agência France-Presse
postado em 16/06/2015 18:34
Genebra - A delegação dos rebeldes iemenitas rejeitou nesta terça-feira qualquer tipo de diálogo com o governo no exílio, pouco depois de sua chegada a Genebra para participar das consultas de paz organizadas pela ONU, e pediu para negociar diretamente com a Arábia Saudita.

"Rejeitamos qualquer tipo de diálogo com quem não tem nenhuma legitimidade. Pedimos um diálogo com a Arábia Saudita para deter a agressão", anunciou Mohamed Zubairi à imprensa, em referência aos bombardeios aéreos da coalizão árabe comandada por Riad contra os rebeldes huthis.

O líder dos rebeldes no Iêmen, Abdel Malek al Huthi, acusou nesta terça-feira o governo no exílio de tentar sabotar as negociações de paz em Genebra, onde a ONU tenta convencer seus emissários de se integrar às negociações.

As conversações têm como objetivo conseguir a suspensão dos combates, que desde maio deixaram mais de 2.600 mortos, segundo a ONU. Esta guerra cristalizou as tensões regionais entre Arábia Saudita, que comanda uma coalizão árabe que lança ataques contra os rebeldes, e o Irã, que apoia estes últimos.



Em um discurso transmitido pela TV, Huthi acusou o governo do presidente Abd Rabo Mansur Hadi de "tentar travar toda (...) tentativa séria de resolver a situação política do país".

O governo iemenita no exílio, por sua vez, afirmou que só negociará com os insurgentes "as modalidades de aplicação da (resolução) 2216" do Conselho de Segurança da ONU, que exige a retirada dos rebeldes das zonas já conquistadas desde o ano passado.

Um mau começo para o encontro com mediação da ONU, que tentará convencer os representantes do governo exilado na Arábia Saudita e os huthis, aliados do Irã, para que cheguem a um acordo de paz ou, ao menos, a uma trégua.

As negociações ocorrem no momento em que uma coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita continua bombardeando as posições rebeldes do grupo Ansarullah (como também são conhecidos os huthis) e as unidades do exército fiéis ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh.

Os membros da delegação dos huthis e seus aliados haviam partido de Sanaa no domingo em um avião contratado pela ONU, mas a aeronave permaneceu bloqueada por 24 horas no Djibuti. Os rebeldes acusaram Egito e Sudão de terem proibido a entrada da aeronave em seu espaço aéreo.

"Foi uma decisão da Arábia Saudita que pediu aos seus aliados" em "uma tentativa de sabotar as negociações", declarou à AFP Adel Shujah, um membro da delegação, ao chegar a Genebra.

A situação se desbloqueou mediante a intervenção "dos Estados Unidos e do sultanato de Omã", acrescentou.Omã é a única monarquia do Golfo que não participa das operações militares contra os rebeldes lançadas desde 26 de março pelas forças sauditas. Omã, que tem boas relações com Irã e Arábia Saudita, havia auspiciado negociações entre Ansarullah e Estados Unidos em maio.


Posições muito distantes

Os rebeldes participarão na terça-feira das negociações auspiciadas pela ONU. No entanto, as posições entre as partes estão tão distanciadas que as Nações Unidas optaram por uma primeira fase de consultas em separado.

Na segunda-feira, em Genebra, Ban Ki-moon se reuniu com representantes do governo no exílio na Arábia Saudita e pediu "uma trégua humanitária de duas semanas durante o Ramadã".

O governo no exílio insiste em que os rebeldes se retirem de todas as zonas que conquistaram antes do cessar-fogo.O Iêmen é o único país da "Primavera Árabe" onde o levante popular terminou com uma solução negociada.

O presidente Saleh, no poder há 33 anos, abandonou suas funções e se radicou nos Estados Unidos.Os rebeldes do Ansarualah pertencem à minoria zaidita, um braço do xiismo, que representa um terço da população.

O presidente Abd Rabo Mansur Hadi, sunita originário do sul do Iêmen, fugiu do país diante do avanço dos rebeldes, que controlam a capital, Sanaa, e uma parte de Áden, a segunda cidade do país. O principal objetivo de Hadi era lutar contra a Al-Qaeda em coordenação com os Estados Unidos.

No entanto, o conflito dos últimos meses favoreceu o desenvolvimento da Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), que teve um de seus principais líderes, Nasser al Wahishi, morto há poucos dias no ataque de um avião sem piloto (drone) americano.

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