Agência France-Presse
postado em 17/06/2015 15:03
A Hungria anunciou nesta quarta-feira (17/6) o fechamento de sua fronteira com a Sérvia, um novo sinal da crise migratória no dia seguinte ao fracasso dos europeus para decidir a distribuição solidária dos refugiados no seu território.Budapeste lançou os "trabalhos preparatórios" para a construção de uma barreira de quatro metros de altura e 175 km ao longo de sua fronteira com a Sérvia, indicou o ministro das Relações Exteriores, Peter Szijjarto, afirmando que tais trabalhos preparatórios serão concluídos na quarta-feira, 24 de junho.
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"De todos os países da União Europeia, a Hungria é a que sofre maior pressão de migração. Uma resposta comum da UE a este desafio é muito demorada e a Hungria não pode esperar. Deve agir", declarou.
Reunidos na terça-feira em Luxemburgo, os 28 países membros foram incapazes de chegar a um acordo sobre um dispositivo destinado a aliviar os países mais expostos, enquanto 100.000 pessoas entraram ilegalmente na UE desde o início da ano, de acordo com a Frontex.
O papa Francisco questionou nesta quarta-feira todos aqueles, governos ou indivíduos, que "fecham as suas portas aos migrantes", e convidou os católicos a "pedir perdão a Deus" em seu nome.
O apelo do Papa não foi direcionado a nenhum país, instituição ou indivíduo em particular, mas intervém neste contexto de crescentes tensões na União Europeia.
Neste sentido, Paris adotou um dispositivo rigoroso de controle na fronteira italiana, bloqueando efetivamente a entrada em seu território de milhares de imigrantes ilegais.
O governo francês, entretanto, garantiu nesta quarta-feira estar resolvido a criar 10.500 novos locais de acolhimento para requerentes de asilo e refugiados. A França registrou 65.000 pedidos de asilo em 2014.
Contrapondo-se a uma gestão europeia do assunto, a Hungria reivindica, por sua vez, o poder de tratar a sua maneira o fluxo migratório.
O número de refugiados na Hungria, que foi de 2.000 para todo o ano de 2012, saltou para 54.000 desde janeiro, fazendo desde país da Europa Central, atrás da Suécia, que hospeda o maior número de refugiados em relação à sua população.
Nova Cortina de Ferro
Sem poder expulsar pura e simplesmente os migrantes em seu território, como desejava o líder populista Viktor Orban, a Hungria optou por uma cerca.
"Esta decisão não viola qualquer tratado internacional, e outros países optaram pela mesma solução", ressaltou Szijjarto, citando a Bulgária, Grécia e Espanha por seus enclaves no Norte da África.
A Sérvia, um país que não faz parte da UE, é considerada um importante ponto de passagem na rota oriental de migrantes para a Europa.
Sexta-feira, dia 12 de junho, Orban acusou Belgrado de "enviar" migrantes na Hungria, ressaltando que "estes devem ser interrompidos em território sérvio."
A questão deve ser discutida entre os líderes dos dois países em uma reunião, em 1; de julho.
Nesta quarta-feira, o ministro do Interior sérvio, Nebojsa Stefanovic, culpou a União Europeia.
"Apelo aos países da União Europeia a nos ajudar a fazer um esforço extra para permitir a Sérvia a proteger as suas fronteiras com os países vizinhos de origem dos migrantes, porque eles vêm principalmente de países membros da UE, a Grécia e Bulgária", declarou nesta quarta-feira em um comunicado.
De acordo com o governo húngaro, 95% dos migrantes que entram na Hungria o fazem pela fronteira sérvia. Cerca de 75% deles vêm da Síria, Iraque e Afeganistão.
Em janeiro e fevereiro deste ano, a Hungria também tem visto a chegada de milhares de kosovares, em razão da difícil situação econômica no país.
A ONG Comitê de Helsinque em Budapeste lamentou o projeto da cerca, evocando uma "nova Cortina de Ferro".
No extremo leste da UE, a Bulgária planeja estender em 82 km a cerca de arame farpado de 30 km implantada no final de 2013 em sua fronteira com a Turquia.