Agência France-Presse
postado em 25/06/2015 16:56
Chile - Dezenas de milhares de estudantes, apoiados por professores que completam mais de três semanas em greve, voltaram a marchar nesta quinta-feira por Santiago, intensificando a pressão contra uma reforma educacional instrumentalizada pelo governo de Michelle Bachelet.Como vem fazendo a cada semana no último mês, os estudantes marcharam pelo centro de Santiago, desta vez com o lema "Que o governo não esconda a bola", aproveitando a vitrine da Copa América, celebrada no país.
Com tambores, bandeiras e uma camisa gigante da seleção chilena - que nesta quarta-feira se classificou para as semifinais da competição -, os estudantes lotaram o setor sul da avenida Alameda, no centro da cidade, passando em frente à sede do governo.
Depois de uma marcha pacífica, ao final do protesto, encapuzados enfrentaram a polícia, algo que tem se repetido ao final de cada passeata estudantil que, desta vez, segundo os organizadores, reuniu umas 120 mil pessoas.
"Exigimos ao ministro (da Educação, Nicolás Eyzaguirre) respostas mais claras, paremos com a soberba", reclamou Valentina Saavedra, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (Fech).
Os estudantes, que há quase uma década iniciaram suas reivindicações pedindo educação pública, gratuita e de qualidade, intensificaram a pressão sobre o governo da socialista Michelle Machelet, em busca de uma reforma mais profunda daquela delineada pelo seu governo.
Implementação complexa
Bachelet chegou ao poder em março de 2014, com a promessa de substituir o modelo educacional deixado pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), acolhendo uma das principais reivindicações do movimento estudantil chileno.
Com um país com um dos sistemas educacionais mais desiguais do planeta, onde apenas 40% estudam gratuitamente em escola e as universidades são todas pagas, sua promessa encheu de esperanças um amplo setor da sociedade. Mas sua implementação tem sido mais complexa do que o esperado.
No ano passado, Bachelet conseguiu a aprovação de uma primeira parte, referente às escolas, pondo um fim à seleção de estudantes, à obtenção de lucros e um "copagamento" de parte dos pais de alunos de escolas subvencionadas. Mas, devido à pressão de grupos de pais e donos dos colégios, a gratuidade para este tipo de escola será gradual.
Para o ano que vem, no entanto, a presidente prometeu a gratuidade para 260 mil estudantes de instituições do ensino superior, onde estuda atualmente 1,2 milhão de pessoas.
Mas seu governo ainda não enviou ao Congresso um projeto para estabelecer a gratuidade universal da educação superior, conforme prometeu estabelecer a partir de 2020.
Tampouco enviou ao Congresso um projeto que tira dos municípios a administração das escolas públicas para passá-las a uma entidade centralizada.
Os estudantes consideram insuficientes os caminhos propostos por Bachelet e querem ir além, propondo, inclusive, a "gratuidade retroativa" e o perdão de todas as dívidas universitárias acumuladas.
Paralelamente, os professores resolveram na quarta-feira manter uma greve por tempo indeterminado, que já dura mais de três semanas, em repúdio a um projeto de lei que regulamentará o exercício da docência discutida no Parlamento.
Os professores pedem a retirada da iniciativa, que vincula os aumentos de salários a avaliações periódicas de desempenho para acordar um novo projeto de lei.