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Ofensiva do Estado Islâmico deixa mais de 100 mortos no Egito

Os confrontos eclodiram entre soldados e jihadistas após a onda de ataques coordenados, causando também 38 mortes

Agência France-Presse
postado em 01/07/2015 22:19
O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) lançou nesta quarta-feira uma série de ataques sem precedentes contra o Exército egípcio no Sinai, em uma ofensiva que deixou mais de 100 mortos, em sua maioria soldados.

Este foi mais um duro golpe contra o regime do presidente Abdel Fattah al-Sissi.

Pelo menos 70 soldados e civis estão mortos, de acordo com autoridades da segurança e de saúde. Já o Exército informou que 17 soldados morreram e mais de 100 jihadistas foram abatidos.

Os confrontos eclodiram entre soldados e jihadistas após a onda de ataques coordenados, causando também 38 mortes entre os extremistas no Sinai do Norte, no leste do Egito, ainda segundo fontes médicas e de segurança.

Os jihadistas enfrentaram violentamente as forças policiais e militares na localidade de Sheikh Zuweid, onde caças F-16 da aviação egípcia bombardearam posições do EI.

As baixas são as mais pesadas sofridas pelo Exército neste reduto do grupo Ansar Beit al-Maqdess, braço do EI no Sinai, que multiplicou os ataques contras as forças da ordem desde a destituição por parte do Exército do então presidente islâmico Mohamed Mursi em 2013.

No Cairo, o líder da Irmandade Muçulmana e ex-parlamentar Nasser al-Houfi foi morto junto com outras oito pessoas da confraria nesta quarta-feira em um ataque da polícia.

"A família de Houfi está tentando recuperar seu corpo", afirmou o advogado da Irmandade - da qual o ex-presidente Mursi faz parte.

Segundo oficiais da polícia, as forças de segurança mataram "nove ativistas islâmicos armados" na periferia da capital egípcia.

No Sinai, na parte da manhã, os jihadistas lançaram uma série de ataques coordenados em uma escala sem precedentes contra várias posições do Exército no leste de al-Arish, utilizando carros-bombas e foguetes, segundo as autoridades.

A intensidade dos combates impediu as ambulâncias de se aproximarem. O Exército enviou helicópteros Apache para combater os jihadistas.

"Esta é uma guerra. A batalha continua", disse um oficial militar à AFP.

"Dado o número de terroristas mobilizados e as armas utilizadas, (estes ataques são) sem precedentes", acrescentou.

;Exército infiel;
Os jihadistas também minaram os arredores da delegacia de polícia de Sheikh Zouweid para impedir a chegada de reforços, antes de se posicionar sobre os telhados de edifícios circundantes e atacar o edifício com lança-foguetes, segundo um coronel da polícia.

"Há homens armados nas ruas. Eles plantaram minas por toda parte", relatou uma testemunha à AFP, falando de Sheikh Zouweid.

Em um comunicado divulgado nas redes sociais, o grupo "Província do Sinai" reivindicou os ataques, acrescentando que três homens-bomba estavam envolvidos.

"Os leões do califado atacaram simultaneamente mais de 15 postos de controle do Exército apóstata", disse, afirmando cercar a delegacia.

Antes chamado de Ansar Beit al-Maqdess, o grupo mudou seu nome para marcar sua lealdade ao "califado" auto-proclamado pelo grupo ultrarradical EI nos territórios conquistados no Iraque e na Síria.

Esses ataques ocorrem dois dias após o assassinato no Cairo do procurador-geral do Egito, Hicham Barakat, em um ataque com bomba, o mais alto representante do Estado a ser morto desde o início da onda de ataques jihadistas em 2013.

Apesar de o assassinato não ter sido reivindicado, no mês passado, o Ansar Beit al-Maqdess convocou seus partidários a atacarem os juízes em resposta ao enforcamento de seis homens condenados por realizar atentados em nome do grupo.

Os jihadistas dizem agir contra a sangrenta repressão aos pró-Mursi, que fez mais de 1.400 mortos.

Luta contra o terrorismo
Em 12 de abril, 14 pessoas, em sua maioria soldados e policiais, foram mortos em dois ataques reivindicados pelo Ansar Beit al-Maqdess no Sinai do Norte, uma região que faz fronteira com Israel e o território palestino da Faixa de Gaza.

Em 2 de abril, um ataque matou 15 soldados e dois civis, além dos 15 agressores.

Em outubro de 2014, 30 soldados já haviam sido mortos no ataque mais letal contra o Exército no Sinai.

Uma vasta campanha militar foi lançada contra os jihadistas nesta região há quase dois anos, mas não conseguiu parar os ataques.

Segundo as autoridades, centenas de policiais e soldados foram mortos desde então.

Após o assassinato do procurador, o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, ex-chefe do Exército que derrubou Mursi, prometeu uma legislação mais dura para "a luta contra o terrorismo".

Na quarta-feira, o governo aprovou uma nova lei antiterrorista, que prevê, sobretudo, "procedimentos para cortar as fontes de financiamento do terrorismo" e deve "oferecer uma justiça rápida e vingar nossos mártires", segundo um comunicado.

Os novos ataques no Sinai são mais um revés para Sissi, cujas forças de segurança estão travando uma repressão implacável contra os islamitas, mas também contra a oposição de esquerda e laica.

A Irmandade Muçulmana de Mursi foi classificada de organização "terrorista" no Egito e, acusada de estar por trás dos ataques mortais nos últimos meses contra forças de segurança, o que ela nega.

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