Berlim, Alemanha - O embaixador dos Estados Unidos na Alemanha foi "convidado" nesta quinta-feira a comparecer na chancelaria para dar explicações sobre as revelações do Wikileaks indicando que a inteligência americana espionou vários ministros alemães, reavivando um caso que prejudicou as relações entre Berlin e Washington.
John Emerson foi convidado "a uma entrevista" com o ministro da Chancelaria Peter Altmaier, responsável por casos ligados à inteligência, indicou o porta-voz da chancelaria alemã, Steffen Seibert, em um comunicado.
Altmaier indicou claramente ao embaixador que "o respeito do direito alemão era indispensável e que as violações comprovadas seriam processadas", indicou Seibert.
Segundo ele, a "indispensável cooperação entre os serviços secretos alemães e americanos é afetada por esses repetidos incidentes". A Alemanha tem reforçado suas defesas contra a espionagem desde o ano passado, acrescentou.
"Esta não é uma convocação oficial", ressaltou, no entanto, o site da revista Der Spiegel, chamando de "prudente" e até mesmo "relutante" a reação alemã a estas novas revelações.
Segundo os documentos revelados pelo Wikileaks e citados na quarta-feira pelo jornal Süddeutsche Zeitung, a agência de inteligência americana NSA não só espionou a chanceler Angela Merkel, como também o fez com os ministros das Finanças, Economia e Agricultura.
"O atual ministro da Economia e vice-chanceler Sigmar Gabriel estava na época na oposição, mas podemos supor que ele também foi grampeado", escreveu o jornal de Munique, que listou uma série de números grampeados de 2010 a 2012.
A procuradoria federal de Karlsruhe (sudoeste), que conduziu a investigação sobre a escuta do telefone celular de Angela Merkel, anunciou nesta quinta-feira em um comunicado que examinaria as novas revelações.
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;Espionagem entre amigos;
Além disso, na lista em possa da NSA consta o número do ex-ministro das Finanças Oskar Lafontaine, que deixou o cargo em 1999. Este número "continua ativo, aquele que o digita cai no secretariado do ministro das Finanças Wolfgang Sch;uble", ressalta o Süddeutsche Zeitung.
Sch;uble reagiu às novas revelações, pedindo que o caso se esclarecido e lamentando que "os serviços americanos perderam de vista o senso de proporção" no jornal Bild a ser publicado sexta-feira.
No entanto, ele garantiu que "as comunicações importantes" dentro do ministério das Finanças eram feitas por canais "mais seguros". As atividades da NSA são "um dos nossos problemas menores", relativizou.
"Os serviços secretos de outras grandes potências me preocupam mais", continuou, sem ser mais específico.
Os alemães, muito sensíveis às questões de privacidade, principalmente em razão de sua experiência com as ditaduras nazista e comunista, chocaram-se com as revelações do ex-consultor da NSA, Edward Snowden, da existência de um vasto sistema de monitoramento eletrônico de seu país por muitos anos.
Segundo essas primeiras revelações, o celular da chanceler também teria sido grampeado, o que afetou a relação entre a Alemanha e os Estados Unidos, tradicionalmente muito próximos.
"A espionagem entre amigos, isso não está certo", disse Merkel na época. Por sua parte, o presidente americano, Barack Obama, excluiu futuras operações de espionagem de Merkel.
Neste ano, no entanto, os meios de comunicação trouxeram à tona evidências de que a Alemanha não seria simplesmente uma vítima, mas que seu próprio serviço de inteligência, o BND, teria ajudado a NSA a espionar outros, entre eles o governo francês, a Comissão Europeia e o grupo Airbus.