Agência France-Presse
postado em 03/07/2015 18:44
O Exército egípcio se declarou determinado a erradicar os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) na Península do Sinai, após a onda sem precedentes de ataques de quarta-feira (3/7), que deixou dezenas de mortos, incluindo muitos militares.Lançadas há mais de dois anos no Sinai, até o momento, as operações do Exército foram incapazes de deter os ataques contra as forças da ordem, que se multiplicaram após a destituição do presidente islamita Mohamed Mursi, em julho de 2013.
Leia mais notícias em Mundo
Depois do assassinato na última segunda-feira do procurador-geral Hisham Barakat em um espetacular atentado a bomba no Cairo, dezenas de combatentes filiados ao EI deflagraram, nesta quarta, uma série de ataques coordenados contra várias posições do Exército no norte dessa península. Barakat é o mais alto representante do Estado assassinado por jihadistas desde o início da onda de ataques em 2013.
Soldados e jihadistas se enfrentaram em duros combates na cidade de Sheikh Zuweid, enquanto caças F-16 do regime bombardeavam posições do EI. Dezessete soldados e 100 jihadistas morreram nos confrontos, apesar de uma autoridade do Exército ter anunciado a morte de 70 soldados e civis.
"Temos a vontade e a determinação para arrancar as raízes do terrorismo e não vamos parar antes de purificar o Sinai de redutos terroristas", garantiu o Exército em um comunicado. O porta-voz da corporação publicou dezenas de fotografias em sua página no Facebook, exibindo os corpos ensanguentados dos "terroristas".
A imprensa egípcia reproduziu as imagens, mostrando seu apoio aos militares: "Vingança", era a manchete do jornal estatal Al Akhbar. "A vitória ou o martírio", dizia outro jornal do governo, Al Gomhureya.
Em um comunicado, a Casa Branca condenou os atentados de quarta-feira, assegurando que os Estados Unidos "continuam apoiando o Egito frente às ameaças de segurança". O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, pediu à comunidade internacional "seu apoio aos esforços do governo egípcio diante do terrorismo".
Jihadismo cresce no Sinai
Os jihadistas afirmam agir em retaliação à sangrenta repressão contra partidários do ex-presidente Mursi, dos quais pelo menos 1.400 foram mortos pelas forças egípcias, milhares foram presos, e centenas foram condenados à morte.
Os mais recentes ataques, reivindicados pelo grupo "Província do Sinai", ocorrem na véspera do segundo aniversário da derrubada de Mursi por ordem do então chefe do Exército e atual presidente Abdel Fatah al-Sissi.
O grupo se autodenominava Ansar Beit al-Maqdess, mas mudou seu nome para marcar sua lealdade ao "califado" proclamado pelo EI nos territórios conquistados na Síria e no Iraque.
"A organização tem-se desenvolvido rapidamente. No ano passado, eram mil combatentes, enquanto hoje são 2.500, a maioria egípcios", indica o professor de Geopolítica Árabe da Universidade de Toulouse, Mathieu Guid;re.
"Está claro que há combatentes egípcios que retornaram da frente síria e iraquiana, o que permite ao grupo se beneficiar de sua experiência em combate", acrescenta. Os confrontos e ataques de quarta-feira são "inéditos e únicos, tanto pela sua intensidade quanto por seu número, qualidade e força", considera.
No Sinai, o Exército egípcio foi superado e não está tão bem preparado para enfrentar uma muito organizada e bem treinada guerrilha islâmica, informou este especialista em movimentos jihadistas.
Em uma parte do Sinai, perto da fronteira com a Faixa de Gaza, o Exército impôs estado de emergência e toque de recolher e está construindo uma zona tampão ao longo da fronteira com Israel, o que levou à expulsão de milhares de famílias.
Os jihadistas dessa área são, na verdade, membros de tribos do Sinai que se sentem marginalizados e discriminados por Cairo. "A alienação política do Sinai é um fator-chave que permitiu à insurgência crescer", diz Michael Wahid Hanna, da fundação americana The Century.
Ao mesmo tempo, "assistimos [no Egito] ao retorno da repressão e das detenções arbitrárias", comentou Mohamed Nabil, membro do movimento de jovens laicos e de esquerda 6 de Abril, proibido pela Justiça em 2014. "O fracasso político [das autoridades] é brutal em todos os níveis", afirmou.
O chefe de segurança egípcia no Sinai norte, general Ali al-Azzazi, destacou, em entrevista à AFP, que acontece uma "mobilização sem precedentes das forças de segurança e do Exército para perseguir os terroristas" em Sheikh Zuweid.
Diante das tensões constatadas a poucos quilômetros de seu território, Israel ordenou ontem o fechamento da auto-estrada ao longo da fronteira com o Sinai, em pleno deserto.
Nesta sexta-feira, dois foguetes disparados do Sinai egípcio explodiram no sul de Israel, sem deixar vítimas, declarou um porta-voz militar israelense. "Dois foguetes disparados do Sinai alcançaram o sul de Israel sem deixar vítimas, ou causar danos materiais", completou.
O Estado Islâmico assumiu hoje a responsabilidade pelos dois ataques aéreos. "Três foguetes ;Grad; foram disparados contra posições israelenses na Palestina ocupada", informou o EI "da província do Sinai", em declaração no Twitter.
No poder em Gaza, o movimento Hamas classificou hoje como "propaganda" as declarações de Israel, acusando o grupo de apoiar ataques jihadistas no Sinai contra o Exército egípcio. O Hamas também reforçou seus pedidos de calma em relação ao Egito.
"As declarações do ocupante (israelense) sobre uma ajuda dada pelo Hamas ao Estado Islâmico (EI) são acusações estúpidas e são propaganda para atacar o Hamas", criticou o porta-voz do movimento em Gaza, Sami Abu Zuhri, em conversa com a AFP.