Agência France-Presse
postado em 06/07/2015 11:39
Londres, Reino Unido - O Reino Unido presta homenagem nesta terça-feira (7/7) aos 52 mortos nos atentados contra o transporte público de Londres em 2005, com o massacre de 30 britânicos na Tunísia ainda vivo na memória. Nos dez anos transcorridos entre os dois atentados, a Grã-Bretanha reforçou a legislação antiterrorista e intensificou sua preparação para emergências, mas o número de britânicos que viajam à Síria e ao Iraque para se unir aos jihadistas multiplicou.As coisas também mudaram no front islamita. Os quatro suicidas de 7 de julho de 2014 disseram ter sido inspirados na Al-Qaeda, enquanto o massacre da Tunísia de 26 de junho, no qual 38 turistas morreram, 30 deles britânicos, foi reivindicado por um grupo do qual nada se sabia há 10 anos, o Estado Islâmico.
Na terça-feira uma coroa de flores será depositada ante o monumento de Hyde Park às 52 vítimas, antes de um serviço religioso na catedral de Saint Paul, que será acompanhado pelas famílias das vítimas e pelos sobreviventes. O país observará um minuto de silêncio às 10h30 GMT (07h30 de Brasília), depois de ter feito o mesmo gesto na última sexta-feira em homenagem aos mortos da Tunísia.
O líder dos ataques de 7 de julho, Mohammed Sidique Khan, pai de um menino e filho de imigrantes do Paquistão, estava chocado com a política externa britânica no Iraque e disse que queria vingar as mortes de seus irmãos muçulmanos. O vídeo que Khan deixou antes de se imolar foi amplamente difundido e deixou uma cicatriz na consciência nacional, com muitos britânicos surpresos de ouvir slogans jihadistas da boca de um jovem com sotaque do condado de Yorkshire.
[SAIBAMAIS]John Tulloch, um britânico-australiano que estava no metrô onde Khan agiu, lembra os momentos depois da explosão, "a escuridão, a fumaça, os vidros por toda parte". Havia "gente horrivelmente ferida ao meu lado, um jovem morto com as pernas abertas aos meus pés", explicou à AFP.
Tulloch segue com a dor física dos estilhaços que acabaram em sua cabeça, mas mais dolorosas são as imagens que tomam conta de sua memória. Para superar o trauma, começou a escrever sobre os ataques e a guerra contra o terrorismo, e aprendeu a conviver com a ideia de que escapou da morte por pouco.
Novo dia sangrento
Uma vez superada a comoção inicial, Londres começou a se preparar para minimizar os riscos de novos atentados. O dia 7 de julho "mudou todo o panorama para a estratégia antiterrorista do Reino Unido", disse Hugo Rosemont, do Centro de Estudos de Defesa do King;s College de Londres.
A ênfase foi colocada não apenas na luta contra a radicalização, mas também em melhorar a eficácia dos serviços de emergência, que foram criticados por sua demora em 2005. "Aprendemos muito", disse Jason Killens, diretor de operações do Serviço de Ambulâncias de Londres. Mas a ameaça evoluiu, e existe o risco de que surjam imitadores de ataques jihadistas como o da Tunísia nos países ocidentais, disse Rosemont.
Na mente de todos está o ocorrido em Paris com a revista Charlie Hebdo. "Há preocupação no Reino Unido pelas pessoas que possam se sentir inspiradas por atos similares, ou pelas atividades e propaganda do ISIS", disse, utilizando outro nome para o grupo Estado Islâmico.
O governo do primeiro-ministro conservador, David Cameron, aprovou neste ano uma nova lei contraterrorista e de segurança que inclui medidas para impedir as viagens dos jihadistas britânicos. Também tem a intenção de reforçar seu arsenal legislativo com uma nova lei que obrigaria os operadores de telefonia móvel e provedores de internet a entregar dados sobre seus clientes à polícia.
Mas esta lei desperta preocupação pelo crescente poder dos serviços secretos, depois de todas as revelações sobre as intromissões da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Gus Hossein, diretor-executivo da Privacy International, disse: "este é um governo que precisa de freio, e não deve ser recompensado com o poder de se intrometer mais em nossas vidas".