Agência France-Presse
postado em 06/07/2015 11:51
Viena, Áustria - O último ato na longa negociação entre o Irã e as grandes potências pelo programa nuclear iraniano começou nesta segunda-feira (6/7), em uma corrida contra o tempo para resolver as divergências que impedem um acordo histórico, um dia antes da data limite de 7 de julho. Os ministros das Relações Exteriores do grupo 5%2b1 (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China e Alemanha) retornaram a Viena no décimo dia de negociações, mas as partes advertiram que o acordo ainda não estava garantido.Nesta segunda-feira, um funcionário iraniano afirmou que Teerã fez várias concessões e mostrou muita flexibilidade, sendo necessário que os ministros abordem "uns poucos assuntos". Apesar disso, admitiu que alguns deles eram de peso e não haviam sido resolvidos pelos especialistas ou pelas autoridades ministeriais de mais baixa patente, e não eram fáceis.
[SAIBAMAIS]Também estavam presentes nesta segunda-feira o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, e chinês, Wang Yi, que disse nesta segunda-feira que "um acordo completo estava ao alcance". "O importante é que hoje e amanhã todas as partes, especialmente Estados Unidos e Irã, tomarão suas decisões finais o mais rápido possível", disse Wang.
Chegou a hora
Na véspera, o secretário de Estado americano, John Kerry, declarou que "chegou a hora" de concluir as negociações sobre o programa nuclear iraniano, indicando, porém, que as conversações seguem abertas em Viena. "Chegou a hora de ver se podemos ou não chegar a um acordo", disse Kerry, acrescentando que as negociações ainda poderiam caminhar "para um lado ou outro".
Esta é a segunda aparição pública de Kerry desde sua chegada em Viena, em 26 de junho, para a maratona de discussões e reuniões diárias com o seu colega iraniano Mohammad Javad Zarif. "Nos últimos dias, fizemos progressos genuínos, mas quero ser absolutamente claro com todos, não estamos onde deveríamos estar com relação a várias das questões mais difíceis", acrescentou Kerry, que realizou três reuniões neste domingo com Zarif. "Todas as cartas estão na mesa. A questão principal é saber se os iranianos aceitam assumir compromissos claros", destacou o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, de volta a Viena na tarde deste domingo, lembrando que restam apenas "72 horas de negociações".
Já a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, declarou em sua chegada à Viena que um acordo "está muito próximo". "O momento chegou (...) estamos muito perto" de um acordo, assegurou, antes de entrar no palácio Cobourg, onde ocorrem as negociações. As negociações de Viena foram retomadas formalmente há dez dias, e os negociadores têm, teoricamente, até 7 de julho para chegar a um acordo final.
Equação complexa
O Irã e 5%2b1 tentam resolver há meses a questão nuclear iraniana, um dos temas internacionais mais complexos e mais sensíveis de todos.Nos temos do acordo procurado, Teerã concordaria em reduzir e color sob controle internacional seu programa nuclear, em troca de um levantamento das sanções que estrangulam sua economia há uma década.
Especialistas e diplomatas trabalham dia e noite em um "texto de 20 páginas, com cinco anexos, totalizando entre 70 e 80 páginas", segundo Abbas Araghchi, um dos principais negociadores iranianos. O objetivo é apresentar aos ministros um projeto o mais preciso e consensual possível, de modo que os políticos tomem as decisões finais.
O objetivo de um eventual acordo é impedir que o programa iraniano tenha uma dimensão militar, em troca do levantamento das sanções internacionais que afetam o Irã. Os iranianos exigem uma retirada rápida e total das sanções, enquanto o grupo 5%2b1 defende um processo gradual e reversível em caso de violação do acordo. O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, declarou no sábado que a sua organização poderia concluir ainda este ano a investigação sobre a "possível dimensão militar" (PMD) do programa nuclear do Irã, um dos pontos-chave do processo.
A PMD é um dos aspectos mais delicados das negociações. A AIEA suspeita que Teerã pode ter conduzido pesquisas, pelo menos até 2003, com o objetivo de adquirir a bomba atômica, e quer acesso aos cientistas envolvidos, bem como aos documentos e instalações que poderiam ter abrigado estas investigações. O Irã sempre negou qualquer intenção em adquirir arsenal militar nuclear, alegando que os documentos nos quais a AIEA se baseia são falsos.