Agência France-Presse
postado em 10/07/2015 11:30
Vinte anos depois do massacre de Srebrenica, que precedeu o fim do conflito da Bósnia (1992-1995), o país balcânico, um dos mais pobres da Europa, segue preso em suas divisões étnicas. A Bósnia não conseguiu fechar as feridas do conflito que deixou 100.000 mortos, e muçulmanos (40%), sérvios (30%, cristãos ortodoxos) e croatas (10%, católicos) seguem se encarando com desconfiança.
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Os líderes políticos nunca renunciaram aos objetivos da guerra, sustenta Srecko Latal, diretor do grupo de reflexão Social Overview Service (SOS). Os muçulmanos querem a centralização e os sérvios a secessão, enquanto os croatas aspiram a uma entidade croata, explica à AFP Latal, também chefe de redação de uma rede regional de jornalismo investigativo (BIRN).
Atiçadas pelos políticos, as divergências entre as comunidades se intensificam nos períodos de celebração, como o massacre de Srebrenica, no leste da Bósnia, um dos maiores traumas da guerra.
Cerca de 8.000 muçulmanos, homens e adolescentes, foram massacrados pelas forças sérvias da Bósnia.
Os muçulmanos bósnios querem que os sérvios admitam que se trata de um genocídio, como tipificou a justiça internacional, mas os bósnios se negam categoricamente a isso.
"Tudo é uma mentira recorrente. Nos dizem ;não devem negá-la;. Como não negar uma mentira?", declarou no sábado passado o líder político dos servo-bósnios, Milorad Dodik.
Duas décadas após o conflito, os líderes das três comunidades não conseguem entrar em acordo em torno de um "mínimo interesse comum", declarou à AFP a analista política Tanja Topic.
Os nacionalistas "aplicam políticas autistas e fabricam tensões permanentes" para, "desta forma, estreitar as fileiras" de suas respectivas comunidades, acrescenta.
"Dividiram o país em zonas étnicas e de interesse nas quais controlam totalmente os fluxos financeiros e nas quais os chefes das tribos étnicas são os mestres da vida e da morte", afirma Topic.
Esta política se baseia nos acordos de paz de Dayton, nos Estados Unidos, que coloca fim à guerra e dividiu o país em duas entidades, uma sérvia e outra croata-muçulmana.
Devido às disputas políticas, a aproximação da Bósnia com a União Europeia está estancada há anos.
Os europeus lançaram várias iniciativas para reativar o processo, embora sem resultados concretos.
A Bósnia atravessa uma situação econômica e social difícil. O desemprego afeta 40% da população ativa e neste ano necessitará de um financiamento de 500 milhões de euros para cobrir seus déficits.
A elite política afirma que a adesão à União Europeia é seu principal objetivo, mas na realidade não é seu verdadeiro interesse, sustenta Topic.
"Esta situação de desordem e de caos é a que mais lhes convêm porque lhes permite criar leis e normas a sua medida", acrescenta Topic.
A situação é crítica: sem um acordo sobre as reformas europeias indispensáveis para receber um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Bósnia corre o risco de afundar nos próximos meses em "uma crise ainda mais profunda", declarou Latal.
Esta crise pode gerar "movimentos de ira" da população e desestabilizar a região, acrescenta.
"A União Europeia e os Estados Unidos" devem "reforçar seu compromisso aqui para impedir que a Bósnia desmorone, o que pode colocar em risco a estabilidade de toda a região" dos Bálcãs, conclui.