Agência France-Presse
postado em 15/07/2015 10:18
Teerã, Irã - Os negociadores iranianos estavam confiantes nesta quarta-feira (15/7) no cumprimento por todas as partes do acordo nuclear alcançado com as grandes potências, muito criticado por Israel e os republicanos americanos. O acordo permitirá à República Islâmica deixar o isolamento diplomático. Londres já expressou sua intenção de reabrir sua embaixada em Teerã antes do final do ano, enquanto o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, anunciou que visitará o Irã em breve."Vamos adotar medidas e eles (as grandes potências) farão o mesmo", declarou aos repórteres o ministro das Relações Exteriores iraniano Javad Zarif, em sua chegada a Teerã. "Levará cerca de quatro meses a partir de agora", acrescentou Zarif, que liderou a delegação do seu país, sobre a aplicação do texto acordado após 22 meses de negociações entre o Irã e o grupo 5%2b1 (Estados Unidos, Rússia, França, China, Reino Unido e Alemanha). Em troca, os Estados Unidos, a União Europeia e as Nações Unidas vão realizar um levantamento gradual das sanções internacionais contra o Irã adotadas desde 2006, que sufocam sua economia.
O acordo, elogiado quase unanimemente pela imprensa iraniana e celebrado por um grande número de iranianos nas ruas de Teerã, faz com que seja praticamente impossível para o Irã obter uma bomba nuclear, mas concede o direito de desenvolver uma indústria nuclear civil. O início deste processo deve ocorrer a partir do primeiro semestre de 2016, desde que Teerã cumpra os seus compromissos.
[SAIBAMAIS]Os iranianos comemoraram até tarde da noite o acordo histórico assinado na terça-feira em Viena e aplaudiram o trabalho de Mohammad Javad Zarif, que foi comparado por um jornal iraniano ao ex-primeiro-ministro Mohammad Mossadegh, considerado um herói por ter nacionalizado em 1953 o setor de petróleo iraniano, até então dominado por potências estrangeiras. Mesmo o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, deixando de lado sua pública aversão pelos Estados Unidos, elogiou "os honestos e duros esforços" de seus negociadores para fechar o pacto.
Desconfiança no Golfo
Teerã espera receber nos próximos meses um grande número de políticos e empresários atraídos pelas riquezas energéticas deste país de 78 milhões de habitantes. Mas, no sentido inverso, Israel chamou o acordo de "erro histórico", indicando que "não está comprometido com o acordo porque o Irã segue buscando nossa destruição", advertiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Ele está disposto a levar esta batalha para o Congresso americano, onde ele espera mobilizar os congressistas republicanos e democratas para bloquear o levantamento das sanções contra o Irã. Mas as chances de alcançar este objetivo são baixas, então ele deverá tentar, acima de tudo, obter "compensações" militares dos americanos.
O Congresso americano, controlado pelos republicanos, não tem que aprovar o acordo, mas tem o poder de bloquear um elemento central: a suspensão das sanções americanas. Em um gesto de apoio, o chanceler britânico Philip Hammond, viajará nesta quarta-feira a Israel, antes de uma visita na próxima semana do ministro americano da Defesa, Ashton Carter. Entre os países do Golfo o acordo foi recebido com prudência. "As preocupações dos países do Golfo se resumem a duas questões: quais consequências econômicas terá um retorno do Irã ao mercado estratégico? E quais consequências políticas?", resumiu Abdelwahab Badrkhan, um analista residente em Londres.
Cooperação contra o EI
O Irã sempre negou querer desenvolver a bomba atômica. Na terça-feira, após o anúncio do acordo, o presidente Hassan Rohani reiterou que seu país "nunca procurará uma arma nuclear". Ele também disse que o Irã conseguiu alcançar todos os seus objetivos através da assinatura do acordo nuclear. "Este acordo não é baseado na confiança. É baseado em inspeções. Os inspetores terão acesso 24 horas às instalações nucleares iranianas", garantiu o presidente Obama.
O presidente concederá nesta quarta-feira uma coletiva de imprensa com a intenção de convencer a opinião pública e os aliados de seu país, principalmente Israel, dos méritos do acordo. Além disso, Washington espera que o acordo abra caminho para uma maior cooperação com o Irã, especialmente contra o grupo jihadista Estado Islâmico, que conquistou importantes territórios na Síria e no Iraque.
Neste sentido, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, considerou que o acordo nuclear é o sinal de uma vontade comum de destruir o EI e acabar com os conflitos na região. O EI "busca atirar nossa região em um conflito sem fim", tuítou o premiê, considerando que "o acordo iraniano expressa a vontade comum de levar paz e segurança à nossa região".