Agência France-Presse
postado em 21/07/2015 08:16
Bujumbura, Burundi - Os burundineses começaram a votar nesta terça-feira (21/7) para eleger seu presidente em um clima de tensão após uma noite de tiroteio e explosões que provocaram a morte de duas pessoas em Buyumbura, a capital. Um policial morreu na explosão de uma granada no bairro de Mutukura e um civil morreu baleado no bairro de Musaga, indicou uma fonte policial. São atos terroristas que têm por objetivo "intimidar os eleitores", denunciou Willy Nyamitwe, principal conselheiro de comunicação do presidente Pierre Nkurunziza.
Cerca de 3,8 milhões de burundineses estão aptos a votar nesta eleição boicotada pela oposição, que considera inconstitucional a candidatura de Nkurunziza a um terceiro mandato presidencial. Nkurunziza foi eleito presidente pela primeira vez e reeleito em 2010. Os centros de votação abriram oficialmente às 06h00 (01h00 de Brasília) e duas horas depois era registrada uma escassa afluência. "Ainda é muito cedo. Ocorreram muitos tiros esta noite", disse um membro da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CNEI).
[SAIBAMAIS]Na escola de Saint-Etienne, no centro da capital, os eleitores depois de votar corriam em direção a uma fonte para apagar do dedo polegar a marca de tinta que confirmava que votaram. "Apagamos a tinta porque as pessoas não querem que votemos", disse à AFP um eleitor recém saído do colégio eleitoral. "Não quero voltar ao meu bairro com a tinta no dedo", disse uma eleitora no bairro de Gyosha, nordeste da capital.
A candidatura do atual presidente afundou o país, desde o fim de abril, em uma grave crise política salpicada de distúrbios e manifestações violentamente reprimidas, em muitas ocasiões com disparos de armas de fogo, que deixaram mais de 80 mortos. Vários meios de comunicação privados foram silenciados e muitos jornalistas e opositores tiveram que passar à clandestinidade ou se exilar. Os Imbonerakure, organização juvenil do partido governante CNDD-FDD, classificados de milícia pelas Nações Unidas, instauraram um clima de intimidação.
A União Europeia e outros países estimaram que este clima impossibilitava a realização de eleições confiáveis e ameaçaram congelar a cooperação se as autoridades não adiassem novamente a eleição, já postergada em duas ocasiões. Na segunda-feira, poucas horas antes do início da eleição, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou as autoridades a fazer todo o possível para manter a segurança e a paz durante as eleições. O governo alertou, por sua vez, para um vazio institucional se o mandato de Nkurunziza expirasse em 26 de agosto sem que tivessem sido realizadas eleições.
Este pequeno país africano dos Grandes Lagos já tinha dificuldade para se recuperar de uma longa guerra civil e de uma história pós-colonial caracterizada pelos golpes de Estado e massacres entre hutus e tutsis. O governo frustrou em maio uma tentativa de golpe de Estado militar e colocou fim em junho, mediante uma brutal repressão, a um mês e meio de manifestações quase diárias em Buyumbura.