Washington, Estados Unidos - Barack Obama realiza esta semana sua primeira visita como presidente ao Quênia, pátria de seu pai, ponto culminante de uma semana diplomática consagrada à África. Segunda-feira, o presidente americano receberá na Casa Branca Muhammadu Buhari, o novo presidente da Nigéria, país mais populoso da África e maior economia do continente.
[SAIBAMAIS]Ele viaja nesta quinta-feira (23/7) para Nairóbi e depois para a capital da Etiópia, Addis Abeba, onde será o primeiro presidente americano da história a fazer uma visita. O primeiro presidente negro dos Estados Unidos viajou quatro vezes ao continente africano desde sua eleição, visitas que não incluíram o Quênia.
O pai de Barack Obama, que ele não conheceu realmente, nasceu no oeste do Quênia, numa aldeia perto do Lago Victoria. Economista, ele deixou sua família quando Obama tinha dois anos e morreu em um acidente de carro em Nairóbi em 1982, aos 46 anos.
O "retorno à casa" de Barack Obama foi impedido por muito tempo pelo indiciamento do presidente Uhuru Kenyatta pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade por seu suposto papel na violência pós-eleitoral no final de 2007 e início de 2008. Essas acusações foram retiradas em dezembro, devido à obstrução do governo queniano, de acordo com o procurador do TPI, mas que em todo caso abriu o caminho para uma visita presidencial.
"É, obviamente, importante do ponto de vista simbólico, espero que isso mostre que os Estados Unidos são um parceiro forte, não só para o Quênia, mas para a África subsaariana", declarou Barack Obama.
Os dois presidentes devem discutir questões sobre comércio e segurança, mas a conversa pode tomar um rumo pessoal. O pai de Obama era um economista para o governo do pai de Uhuru Kenyatta, Jomo, que governou o país por 14 anos, da independência até sua morte em 1978.
Os dois homens não se entendiam e Obama pai foi finalmente demitido pelo Kenyatta pai, um ostracismo que contribuiu para seu alcoolismo. Barack Obama, absorvido desde 2009 pela recessão nos Estados Unidos, as crises no Oriente Médio, o terrorismo e seu "pivot asiático", procurará consolidar seu balanço africano. "Esta viagem é extraordinariamente importante para o presidente", considera o ex-secretário de Estado adjunto para África, Johnnie Carson.
De acordo com fontes diplomáticas, a Casa Branca ainda debate para determinar se esse balanço deve incluir uma tentativa de resolver o conflito no Sul do Sudão, um país fundado desde 2011 em uma guerra civil devastadora. Dezenas de milhares de pessoas morreram e mais de dois milhões fugiram de suas aldeias. Mas um envolvimento dos Estados Unidos pode ser arriscado, ainda mais em caso de fracasso político.
Quênia atingida por atentados
Durante sua primeira visita ao continente, em 2009, Barack Obama chamou os africanos a se apoderar de seu destino. Mas seis anos depois, a ambição permanece limitado por problemas de segurança, corrupção e violações dos direitos humanos.
O Quênia tem sido particularmente atingido por grupos extremistas. Em 1998, as embaixadas dos Estados Unidos em Nairóbi e Dar es Salaam foram destruídas por enormes explosões, que fizeram centenas de mortes.
Em 2013, 67 pessoas morreram no massacre perpetrado pelos islamitas somalis shebab, aliados à Al-Qaeda, no centro comercial Westgate em Nairóbi. E em abril, o shebab massacrou 148 pessoas na universidade de Garissa, em sua maioria estudantes.
"O Quênia está na linha de frente da luta contra o terrorismo, e é por isso que os Estados Unidos têm equipado e treinado nossas forças de segurança", declarou o embaixador queniano nos Estados Unidos, Robinson Njeru Githae.
Barack Obama vai participar de uma cúpula mundial de empreendedorismo em Nairóbi (Global Entrepreneurship Summit), uma iniciativa lançada em 2010 e que reúne milhares de empresários e empresas.
Em Addis Abeba, Barack Obama deverá discutir o déficit democrático africano diante dos líderes da União Africana.Mais de 50 ONGs africanas e internacionais, incluindo a Human Rights Watch e Freedom House, escreveram ao presidente americano para instá-lo a não negligenciar o assunto.