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Após reatamento entre Cuba e EUA, suspensão do embargo será próximo passo

Especialistas avaliam que a sociedade cubana deve perceber mudanças mais significativas com o fim do bloqueio econômico

postado em 25/07/2015 12:57
Após o reatamento diplomático entre Cuba e Estados Unidos, a normalização completa das relações entre os dois países ainda tem pendências a serem resolvidas, principalmente a suspensão do embargo econômico, comercial e financeiro imposto à ilha caribenha desde 1962. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil avaliam que a sociedade cubana deve perceber mudanças mais significativas em seu cotidiano com o fim do bloqueio econômico.

No dia 20 de julho, as embaixadas foram reabertas em Washington e em Havana após 54 anos de rompimento diplomático. Nesse dia, após reunião com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, o chanceler cubano Bruno Rodríguez disse que Havana reconhece a determinação do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em trabalhar para suspender o embargo econômico a Cuba e reiterou a urgência de o Congresso norte-americano eliminar o bloqueio, que restringe as trocas comerciais e o acesso de empresas e investidores à ilha caribenha.

Para o professor do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Paulo Pereira, a reabertura das embaixadas tem importante caráter simbólico de remoção de um dos resquícios da Guerra Fria, mas representa apenas o início de um ciclo que só vai se completar com o fim do embargo. ;Quando o embargo for retirado, a gente vai começar a ver, aí sim, uma maior transformação política e econômica e vai poder dizer que esse anacronismo da Guerra Fria foi colocado de lado pelos EUA;.

Na avaliação do professor, as mudanças que vão ocorrer para o cidadão cubano ainda vão precisar de um tempo para aparecer. ;O ponto mais fundamental desse processo é uma gradual abertura de comercialização entre EUA e Cuba, especialmente a partir do momento, e esse é o grande teste desse reatamento diplomático, do fim do embargo. Enquanto isso não ocorrer, as mudanças ainda vão ser muito tímidas. Acho difícil que o cidadão comum sinta tão presente agora qualquer transformação;.

Pereira acredita que a retomada das relações vai possibilitar uma maior circulação de pessoas, principalmente dos cubanos exilados nos Estados Unidos para visitar a ilha caribenha. ;Existe uma série de restrições de viagens entre os dois países e, com o reatamento, isso deve ter um relaxamento. Já havia uma distensão nesse sentido há pelo menos um ano e meio e agora esse processo será intensificado;.

O professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Argemiro Procópio Filho, também acredita que as visitas e as remessas de dinheiro serão facilitadas. ;Muitas pessoas em Cuba têm parentes nos Estados Unidos e o envio de ajuda financeira sempre foi difícil. A facilitação das viagens e das remessas já é um grande passo. O processo de mudanças é lento, não é da noite para o dia. Cuba é um mercado em potencial para diversos setores, como, por exemplo, telecomunicações.;

O consultor e ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral, diz que uma das principais apostas da economia cubana para se reerguer é o afluxo de turistas americanos. Segundo ele, o turismo é uma das principais atividades econômicas da ilha caribenha que teve grande investimento em resorts e hotéis de grupos europeus.

Barral lembra que a economia cubana foi subsidiada pela União Soviética na época da Guerra Fria e passou a vivenciar forte crise a partir da década de 1990. ;A abertura do mercado americano será muito importante. Cuba vai poder exportar produtos tradicionais, como charutos e rum, o que vai ajudar sua economia;.

O ex-secretário de Comércio Exterior explica que a economia cubana está em transição. ;Para atrair capital estrangeiro, Cuba já fez algumas reformas permitindo investimento externo em alguns setores, como turismo. Os cubanos já podem ter alguns pequenos negócios, como restaurantes e táxis. Uma transição para uma economia de mercado vai vir com o tempo, não vai ser de um dia para o outro;.

Barral destaca que o Brasil, ao financiar o Porto de Mariel, em Cuba, saiu na frente nesse novo cenário que se desenha para a região. ;Cuba tem uma posição geográfica privilegiada, no centro do Caribe. O Porto de Mariel já vai dar uma estrutura logística muito boa para embarque e desembarque de mercadorias. A médio prazo, Cuba pode crescer na área logística. Para o Brasil, interessa que a economia cubana volte a crescer para consumir produtos manufaturados nacionais;.

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