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Ofensiva da Turquia complica futuro político do presidente regional curdo

O líder de 68 anos esteve à frente da região autônoma por 10 anos. O seu mandato foi prorrogado em 2013 por mais dois anos, até o próximo dia 19 de agosto

Agência France-Presse
postado em 04/08/2015 11:31
Bagdá, Iraque - A ofensiva aérea lançada pela Turquia no Curdistão iraquiano aumentou a pressão sobre o presidente da região autônoma, Massud Barzani, um ator-chave na luta contra o jihadismo e com um futuro político incerto. Barzani, o líder de 68 anos do Partido Democrático do Curdistão (KDP), esteve à frente da região autônoma por 10 anos. O seu mandato foi prorrogado em 2013 por mais dois anos, até o próximo dia 19 de agosto.

[SAIBAMAIS]Barzani diz que sua liderança é fundamental para a luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), uma opinião contestada pela oposição curda que, embora desunida, concorda que em não dar ao político outro cheque em branco. "O KDP nos pediu para prorrogar novamente o mandato do presidente, mas nós rejeitamos esta opção e agora temos de encontrar uma solução", declaroy Imad Ahmed, membro do bureau político da União Patriótica do Curdistão (PUK).

O PUK, do ex-presidente iraquiano,Jalal Talabani, é rival histórico do KDP, mas agora também surge outro opositor, o Gorran (Mudança), que obteve seis assentos e tem agora um total de 24. Junto com partidos islâmicos, conseguem controlar 59 dos 111 assentos do parlamento regional, que é responsável pela eleição do presidente. "Se fosse como em qualquer sistema democrático estável, simplesmente o tirariam do governo, mas não é simples assim", explica Kirk Sowell, um especialista em risco político que publica a revista bimestral Inside Iraqi Politics.

Barzani e seus aliados controlam várias posições-chave que aumentam seu poder como, por exemplo, os serviços de inteligência e os meios de comunicação de maior circulação. Assim, à medida que se aproxima a data do fim do mandato, os líderes políticos curdos estão envolvidos em intensas negociações, enquanto Barzani se vê em uma situação nada confortável, principalmente após o início da ofensiva aérea da Turquia contra o território curdo no Iraque.



O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), perseguido na Turquia, tem historicamente procurado refúgio nas montanhas do lado iraquiano da fronteira, mas, após a ofensiva, Barzani pediu que deixassem o território para evitar perdas civis. "É realmente um momento difícil (...) É uma situação insustentável, porque todos os curdos apoiam o PKK e Barzani não pode se mostrar contrário ao PKK", disse Sowell.

Colônia da Turquia

Além disso, tanto o partido de Barzani como a formação do Governo Regional do Curdistão (KRG) estão intimamente ligados e dependentes de Ancara. O governo de Ancara e as empresas turcas têm investido bilhões de dólares na região autônoma curda.

O KRG também precisa exportar petróleo para Ancara, que é a sua principal e quase única fonte de renda, para o qual utiliza o porto turco de Ceyhan. "Eles são como uma colônia econômica da Turquia", afirma Sowell. Barzani e o KDP foram muito criticados por sua incapacidade de proteger a minoria Yazidi durante a ofensiva violenta lançada pelo Estado Islâmico no ano passado, enquanto o PKK e o seu gêmeo sírio são considerados como salvadores desta minoria.

A nível institucional, Gorran e o PUK querem dar mais poder ao parlamento frente ao executivo, enquanto Barzani quer impor a votação por escolha popular. "Precisamente porque há uma crise de segurança, uma crise financeira, uma crise de serviços e agora as tensões na fronteira e bombardeando contra aldeias curdas, precisamos encontrar uma solução para a questão da presidência", ressaltou o representante do PUK Imad Ahmed.

Para Abdulrazaq Ali, porta-voz do partido Gorran, o único ponto de acordo nos próximos dias é concordar em discordar um pouco mais. "Eu acho que após o final do período de Barzani em 20 de agosto, vamos entrar numa fase de governo interino até que a Constituição seja reformada ou que haja eleições antecipadas", disse Ali.

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