Agência France-Presse
postado em 10/08/2015 08:45
Ferguson, Estados Unidos - Centenas de manifestantes saíram às ruas no domingo (9/8) em Ferguson (centro dos Estados Unidos) no local onde morreu, há um ano, um jovem negro desarmado, Michael Brown, nas mãos da polícia, um protesto que terminou de forma violenta com pelo menos um ferido. Ao final de uma marcha pacífica que reuniu quase 300 pessoas, a tensão cresceu e o ato terminou em violência depois de uma troca de tiros entre dois grupos rivais, segundo a polícia.
[SAIBAMAIS]Um homem que fugiu do local encontrou quatro detetives à paisana em uma caminhonete e abriu fogo contra o veículo, afirmou em uma entrevista coletiva Jon Belmar, chefe de polícia do condado de St. Louis, ao qual pertence Ferguson. "Os quatro atiraram contra o suspeito, que caiu ferido", disse Belmar. O homem está em "condição crítica, instável".
Um vídeo mostra um homem negro algemado, sangrando profundamente. Os detetives envolvidos tinham entre seis e 12 anos de experiência e foram colocados em licença administrativa. Belmar afirmou que as pessoas que iniciaram o tiroteio não eram manifestantes, e sim "criminosos". Entre o fim da manifestação e o tiroteio, um grupo de 50 pessoas saqueou duas lojas, segundo as autoridades.
No início da manifestação, duas pombas brancas foram soltas no meio da multidão, reunida para lembrar o aniversário de morte do jovem de 18 anos, em 9 de agosto de 2014, vítima de disparos do policial Darren Wilson. Trezentas pessoas guardaram silêncio durante quatro minutos e meio pelas quatro horas e meia durante as quais o corpo de Bronw ficou na rua até que o levassem.
Esta morte em Ferguson (subúrbio de St. Louis, Missouri) desencadeou uma onda de protestos e uma investigação sobre os excessos da polícia, que em vários casos levaram à morte de jovens negros desarmados. Muitos vestiam camisetas onde se podia ler "Escolha a mudança" ou cartazes que diziam "Chega de matar meninos negros".
Depois dos minutos de silêncio, a multidão seguiu em uma marcha silenciosa até a igreja de Saint Mark, que serviu de refúgio durante os protestos que se seguiram à morte de Brown.
Progresso lento
Um ano depois, alguns líderes afirmam ter sido testemunhas de mudanças significativas na atitude dos americanos com relação aos temas raciais, mas lamentam ter visto poucas iniciativas dos legisladores para fazer reformas políticas.
Cornell William Brooks, presidente da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), um dos grupos de direitos civis mais antigos do país, disse no domingo à emissora CBS que as mentalidades mudaram muito, mas que as reformas para obrigar a polícia a prestar contas e formar melhor os agentes avançavam em um ritmo "glacial".
O presidente Barack Obama, por sua vez, rebateu as críticas, segundo as quais teria feito muito pouco para superar os problemas raciais na condição de primeiro presidente negro dos Estados Unidos. "Só direi uma coisa: sinto a necessidade urgente de fazer o que for possível", disse, em entrevista à rádio pública NPR, que teve um trecho divulgado no domingo.
"Esses policiais assassinos têm que ir embora"
No sábado, centenas de pessoas, lideradas pelo padre e outros parentes de Brown protestaram pelas mesmas avenidas de Ferguson onde, em novembro, ocorreram distúrbios depois que um tribunal decidiu não processar o policial branco que atirou no rapaz.
Embora a marcha tenha sido pacífica e até crianças tenham participado, à tarde aumentou a tensão e os manifestantes ficaram mais agressivos. Alguns pularam as cercas de proteção para desafiar os policiais e cerca de 200 pessoas gritaram em frente à sede da polícia: "esses policiais assassinos têm que ir embora".
Os manifestantes repetiam palavras de ordem como "Mãos para o alto, não atire" e "Por quem fazemos isto? Fazemos por Mike Brown". Anteriormente, o pai de Brown declarou aos meios de comunicação que dedicava todo o seu esforço a "manter viva a memória" do filho, fazendo "todo o possível para empoderar" a comunidade negra.