Agência Estado
postado em 10/08/2015 09:33
Lahore, Paquistão - O Paquistão iniciou uma investigação do que pode ser o maior escândalo de estupro de crianças da história do país, no qual pelo menos 280 vítimas teriam sido filmadas em pleno abuso por homens que depois chantageavam as famílias.[SAIBAMAIS]Pelo menos 280 crianças, a maioria com menos de 14 anos, aparecem nas centenas de vídeos sórdidos, filmados a partir de 2007 na localidade de Husain Janwala, ao sudoeste de Lahore, a segunda maior cidade do país, informou Latif Ahmed Sara, representante das famílias das vítimas.
As crianças eram filmadas enquanto eram violentadas por um ou vários homens, ou eram obrigadas a manter relações entre si, informaram Sara e a imprensa local. Vinte e cinco homens estariam envolvidos nos crimes. "Divulgaram quase 300 vídeos e neles aparecem uma em cada duas crianças desta localidade", disse o representante.
A dimensão do escândalo é tamanha que o primeiro-ministro paquistanês Nawaz Sharif, que tem em Lahore seu principal reduto eleitoral, divulgou um comunicado no qual expressa "revolta" e "dor". Ele prometeu que nenhum tipo de indulto será concedido aos culpados.
O irmão do premier, Shahbaz Sharif, chefe de Governo da província de Punjab, anunciou uma investigação judicial "independente" sobre o caso, que provocou a indignação das organizações de defesa dos direitos humanos e teve grande repercussão na imprensa. "As pessoas envolvidas serão punidas e faremos justiça a qualquer preço para as famílias afetadas", afirmou em um comunicado.
- A ponta visível do iceberg? -
Os advogados das vítimas, no entanto, acusaram nesta segunda-feira (10/8) a polícia de conivência com os supostos agressores, com a imposição de um toque de recolher na cidade, a detenção "ilegal" das vítimas e a recusa em registrar as denúncias na justiça.
"Este caso constitui o maior escândalo de abusos cometidos contra crianças na história do Paquistão", afirmou o diretor da Secretaria de Proteção à Infância de Punjab, Saba Sadiq. "E provavelmente é apenas a ponta visível do iceberg", denuncia um editorial do jornal Daily Times.
"Frequentemente as crianças são vítimas de abusos (sexuais) nas escolas corânicas, em casa e por parte daqueles que as empregam por salários de miséria. Estas crianças e suas famílias escondem os abusos sexuais porque é um tabu no Paquistão", completa o jornal.
De acordo com vários depoimentos, os culpados tentaram chantagear os pais das vítimas, com a ameaça de vender os vídeos na região por apenas 40 rupias (30 centavos de euro). Em um primeiro relatório solicitado na semana passada pelo governo provincial de Punjab à polícia, as autoridades locais negaram as alegações de abusos, que chamaram de "infundadas".
"Trata-se de um incidente ocorrido há muito tempo e aqueles que pretendem hoje ser vítimas se aproveitam desta história para um ajuste em uma disputa territorial", declarou à AFP o chefe de polícia local, Shahzad Sultan. De acordo com a versão de Sultan, alguns homens filmavam cenas de atos sexuais entre jovens "com seu consentimento" e para diversão. "Nós prendemos oito pessoas. Os incidentes terminaram", disse.