O futuro do governo líbio reconhecido pela comunidade internacional parece incerto depois que o primeiro-ministro, Abdallah al-Theni, anunciou a intenção de renunciar ao cargo.
Theni revelou a decisão na terça-feira (11/8) durante um programa de televisão no qual vários telespectadores criticaram o trabalho de seu governo. "Se minha demissão é a solução, então a anuncio aqui", declarou o primeiro-ministro, que pretende apresentar a renúncia ao Parlamento no domingo.
O porta-voz do governo, Hatem al-Uraybi, não confirmou a decisão. "Ainda não tenho a resposta à pergunta se apresentará sua renúncia ou não no domingo no Parlamento", disse à AFP.
A Líbia está imersa no caos desde 2011, quando a revolta popular e uma intervenção da Otan acabaram com o regime e resultaram na morte do ditador Muamar Kadhafi, que estava há mais de 40 anos no poder.
O país tem dois governos e dois Parlamentos, que disputam o poder, enquanto diversas milícias armadas lutam para controlar as reservas de petróleo e o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) ganha terreno.
Durante o programa de TV, Theni recebeu muitas críticas de telespectadores sobre a negligência do governo, incapaz de garantir serviços básicos como o fornecimento de energia elétrica ou de acabar com a insegurança nas zonas que controla.
Acusações de corrupção
Os telespectadores também acusaram o governo Theni, que escapou ileso de uma tentativa de assassinato em maio em Tobruk (leste), de corrução.
Os integrantes do governo e os membros do Parlamento eleito na última votação geral foram obrigados a seguir para Tobruk, depois que a coalizão de milicias Fajr Libya assumiu o controle da capital, Trípoli, em meados de 2014.
Um governo paralelo, não reconhecido pela comunidade internacional, se instalou em Trípoli junto ao Parlamento anterior (o Congresso Geral Nacional, CGN).
O enviado da ONU para a Líbia, Bernardino León, negocia há vários meses com os dois lados para tentar formar um governo de unidade nacional.
No dia 11 de julho, o Parlamento de Tobruk assinou um acordo de "paz e reconciliação" para avançar rumo a tal governo, mas os integrantes do CGN se negaram a assinar o texto. A ONU media uma nova rodada de negociações em Genebra desde terça-feira
León explicou à imprensa que tenta conseguir a formação de um governo de unidade até o início de setembro, antes da Assembleia Geral da ONU.
O Parlamento de Trípoli já advertiu, no entanto, que não assinará nenhum acordo que determine a manutenção do general Khalifa Haftar no comando do exército.
Haftar iniciou em maio de 2014 uma operação contra os grupos anti-islamitas em Benghazi, a segunda maior cidade do país. O governo reconhecido internacionalmente havia criticado o general da reserva em um primeiro momento, antes de nomeá-lo comandante do exército em março.
León insistiu na importância de deter as armas na Líbia e instaurar um diálogo entre os distintos grupos armados, mas lamentou que a questão não avance ao mesmo ritmo que com os políticos.
O emissário da ONU também pediu "a todos os líbios" que participem no processo de paz de forma construtiva e que evitem "as ações unilaterais".
León se encontrou na terça-feira, de maneira separada, com as distintas partes do conflito líbio e afirmou que tem a esperança de uma reunião com todas à mesma mesa.