Agência France-Presse
postado em 13/08/2015 15:22
Cerca de meio milhão de pessoas assinaram uma petição para que o papa Francisco não autorize a comunhão para os divorciados que voltarem a se casar e que condene a união entre os homossexuais, informaram nesta quinta-feira os organizadores da iniciativa. Segundo o site www.filialesuplica.org, mais de 462.700 pessoas em todo o mundo assinaram a petição até esta quinta-feira (13/8).Chamada de "Filial Súplica a sua Santidade para o futuro da família", os signatários pedem ao "papa Francisco que reafirme categoricamente o ensinamento da Igreja de que os católicos divorciados que voltam a casar no civil não podem receber a Sagrada Comunhão e que as uniões homossexuais são contrária à lei divina e à lei natural".
A iniciativa foi lançada por várias organizações católicas conservadoras, conhecidas por suas campanhas contra o aborto e que contam com o apoio de inúmeros dirigentes da Igreja católica.
Entre as pessoas que assinaram o documento, estão vários bispos e cardeais, entre eles o americano Raymond Burke, cuja influência na Cúria Romana diminuiu depois da eleição do papa argentino.
O pontífice convocou para outubro um sínodo para debater vários temas numa tentativa de estabelecer uma mediação entre posições progressistas e conservadoras. O papa já afirmou que os divorciados que voltam a se casar sempre farão parte da Igreja e que não devem ser tratados como excomungados.
O sumo pontífice lembrou que o divórcio contradiz o sacramento cristão, mas considerou que "é necessária uma fraterna e atenta acolhida, no amor e na verdade, em relação aos batizados que estabeleceram uma nova relação após o fracasso de um casamento sacramental".
Estas pessoas "não estão excomungadas, como alguns pensam: elas sempre formam parte da Igreja", insistiu Francisco durante sua tradicional audiência de quarta-feira na sala Paulo VI, provocando aplausos entre os presentes.
A Igreja, acrescentou, "sente o dever de discernir bem as situações, diferenciando entre os que sofreram a separação e os que a provocaram".
No fim de junho, durante sua última audiência de quarta-feira antes da interrupção em julho, Jorge Bergoglio já havia mostrado seu pragmatismo em relação ao divórcio, considerando que certas vezes ele é inevitável.
"Pode inclusive ser moralmente necessário, quando se trata de proteger o esposo mais frágil, ou as crianças pequenas, dos ferimentos mais graves provocados pela intimidação e pela violência, pela humilhação e exploração, e também pela indiferença", havia explicado na época.
"A Igreja não tem as portas fechadas a ninguém", afirmou o Papa argentino. Para a Igreja, não é possível dissolver um casamento religioso, e o direito canônico, que considera as pessoas que se casam pela segunda vez como infiéis ao seu primeiro cônjuge, as exclui dos sacramentos, incluindo a comunhão.
A excomunhão é, no entanto, uma sanção mais dura, já que também envolve uma exclusão da comunidade. A questão dos católicos que se casam pela segunda vez divide a Igreja, assim como o lugar dos homossexuais em seu seio ou as uniões civis.
O tema é especialmente espinhoso nos países do Sul, contrários a qualquer mudança e que enfrentam uma linha mais moderna, que busca conseguir uma certa abertura.
Este assunto gerou debates durante o sínodo sobre a família do último outono (boreal), e deve centrar as negociações do segundo sínodo sobre esta questão em outubro, que tem que elaborar recomendações para o santo padre.
O conteúdo do documento de trabalho deste segundo sínodo, publicado no fim de junho, parece oscilar entre as leves aberturas de alguns prelados ocidentais e a reafirmação da doutrina.
O texto levanta a possibilidade de um "caminho de penitência" que abra caminho a um retorno à comunhão para divorciados que voltam a se casar, mas com duras condições que podem ir até a obrigação de dormir em quartos separados.
Por outro lado, existe um consenso mais amplo para simplificar os processos de nulidade matrimonial, que permitem anular uma união por um vício de fundo ou de forma. Em março, o Papa havia recomendado não ter expectativas desmedidas em relação ao resultado do sínodo sobre a família.
Mas em uma missa celebrada durante sua viagem à América Latina em julho, Francisco pediu aos fiéis que rezassem por um milagre que permitisse "encontrar soluções e ajudas concretas para as muitas dificuldades e os importantes desafios que a família deve enfrentar atualmente".