Washington, Estados Unidos - Um ano depois do assassinato de James Foley por jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI), a família do jornalista americano luta para evitar que outros reféns tenham o mesmo destino.
Depois de sua morte, em 19 de agosto de 2014, os pais de Foley uniram forças a organizações de defesa da liberdade de imprensa e a famílias de outros reféns para tentar convencer o governo americano a modificar sua estratégia sobre sequestros no exterior.
Graças ao apoio de uma opinião pública abalada pela decapitação de James Foley, cuidadosamente encenada por seus carrascos, houve alguns avanços.
Em junho, o presidente Barack Obama mudou os procedimentos relacionados à tomada de reféns no exterior. A partir de agora, as famílias de americanos sequestrados têm um interlocutor único: uma "célula conjunta", segundo um novo jargão oficial, que contará com especialistas do FBI (polícia federal americana), da CIA (central de inteligência) e do Departamento de Estado, entre outras organizações.
O presidente fez outra concessão: as famílias que pagarem um resgate para libertar um parente não correrão o risco de ser processadas na justiça.
Barack Obama continua sendo, no entanto, um defensor do princípio geral que prevalece há décadas no governo americano: "não negociamos com terroristas".
Trinta americanos retidos no exterior
"Agradecemos aos Foley, às outras famílias e aos outros reféns por sua coragem e generosidade, por seu compromisso e pela ajuda que deram para revisar nossa política sobre os reféns. Nós nos comprometemos a por em prática estas reformas", declarou Peter Boogaard, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca.
A mãe de Foley, Diane, e as organizações que apoiam sua luta reconhecem e saúdam os avanços feitos, mas com uma observação importante: lembram que 30 americanos continuam retidos no exterior.
"Temos esperanças razoáveis, mas nenhum americano voltou para casa até o momento", disse ela à AFP, agradecendo à Casa Branca por suas iniciativas.
Duas semanas depois da execução de James Foley, outro jornalista americano, Steven Sotloff, foi assassinado seguindo a mesma cenografia macabra e pelo mesmo carrasco com sotaque britânico, que ficaria conhecido como "jihadista John".
Estas execuções geraram uma onda de indignação e lançaram os holofotes sobre o EI. Também revelaram as diferenças de método - e de resultados - entre países cujos cidadãos foram sequestrados pelo grupo EI.
De um lado, reféns franceses e espanhóis, maltratados no cárcere, mas libertados após o pagamento de elevados resgates, segundo informações da imprensa, e do outro americanos e britânicos, que se negam a pagar.
David Haines e Alan Henning, dois trabalhadores humanitários britânicos também foram assassinados poucas semanas depois de Foley e Sotloff.
"Que seu sacrifício não tenha sido em vão"
A família de James Foley se queixa de ter sido ameaçada com processos judiciais por altos funcionários americanos caso pagasse resgate para libertar o jornalista.
"Muitas coisas mudaram no último ano sobre a forma como o governo americano lida com os casos de sequestro de americanos. Muito tinha que ser feito", relatou Delphine Halgand, diretora para os Estados Unidos da ONG Repórteres sem Fronteiras.
As organizações envolvidas, assim como as famílias, querem resultados, como é o caso, por exemplo, da de Austin Tice, outro jornalista capturado na Síria há três anos.
Novas informações sobre o terrível destino de uma jovem trabalhadora humanitária americana, Kayla Mueller, escravizada e violentada pelo líder do EI antes de ser morta, deram um pouco mais de urgência à discussão em curso.
Os pais de Kayla se queixaram amargamente de que o governo americano tenha colocado seus princípios acima da vida de sua filha.
"O verdadeiro avanço ocorrerá quando um prisioneiro americano voltar para casa e trabalhamos para este fim todos os dias, para que Austin Tice volte são e salvo", disse Delphine Halgand.
"Tenho a esperança de que as vidas de Jim e Steven, e as de outros, não tenham sacrificadas em vão", complementou Diane Foley.