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Pista islamita é investigada após ataque em trem Amsterdã-Paris

Segundo os primeiros elementos da investigação, o suspeito, que permanecia detido pelos serviços antiterroristas perto de Paris, é um marroquino de 26 anos

Agência France-Presse
postado em 22/08/2015 12:30
Arras - Os investigadores franceses interrogavam neste sábado o homem apontado como um islamita radical e neutralizado na sexta-feira por militares americanos de férias e outros passageiros depois de abrir fogo em um trem Thalys Amsterdã-Paris.

Segundo os primeiros elementos da investigação, o suspeito, que permanecia detido pelos serviços antiterroristas perto de Paris, é um marroquino de 26 anos.

"Viveu na Espanha, em Algeciras (sul) durante um ano, até 2014. Depois decidiu ir à França" e posteriormente "viajou à Síria, antes de retornar à França", segundo uma fonte da luta antiterrorista na Espanha.

Outras fontes indicam que da Espanha viajou à Bélgica, em cuja capital teria abordado na sexta-feira o trem Thalys.

Segundo o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, os serviços espanhóis acusaram o suspeito por seu "pertencimento ao movimento islamita radical".

O indivíduo, detido no norte da França após o ataque que deixou dois feridos, negou qualquer caráter terrorista em sua ação.

Nove carregadores

Armado com um fuzil kalashnikov com nove carregadores, uma pistola automática Luger e um carregador de 9 mm, além de um objeto cortante, o homem abriu fogo ao menos uma vez na sexta-feira às 15h50 GMT (12h50 de Brasília) no trem de alta velocidade Thalys 9364 Amsterdã-Paris, pouco depois de sua entrada em território francês.

O massacre que ele aparentemente se preparava para cometer foi evitado graças à intervenção de um grupo de americanos, entre eles dois militares, e um britânico, que neutralizaram o agressor e foram saudados como heróis.

Dois militares ficaram feridos, um pela arma branca que o criminoso carregava.

O presidente francês, François Hollande, os receberá nos próximos dias no palácio presidencial do Eliseu. Por sua vez, o presidente americano, Barack Obama, expressou sua profunda gratidão.

Este ataque aconteceu oito meses após os atentados contra o semanário satírico Charlie Hebdo de janeiro em Paris, e após vários incidentes em outros países europeus que colocaram em alerta máximo os serviços de segurança.

A narração feita a vários meios de comunicação pelos militares, Alex Skarlatos e Spencer Stone, e por um estudante amigo deles, todos eles de férias na Europa, descreve um incidente muito rápido, que poderia ter acabado em uma grande tragédia.

"Vi um homem entrando no trem com uma kalashnikov e outra arma, olhei para Spencer e disse "Vamos, vamos", explicou Skarlatos, membro da guarda nacional do Estado de Oregon (oeste dos Estados Unidos), que retornou há pouco tempo de uma missão no Afeganistão.

"Spencer correu 10 metros em direção ao homem. O criminoso pegou uma faca e atingiu Spencer atrás do pescoço, praticamente cortou também o polegar", contou Skarlatos.

"Neste momento eu cheguei e peguei sua arma, e basicamente o espancamos até que ficou inconsciente. Depois o amarramos", acrescentou.

"A única coisa que nos dizia era: ;devolva minha arma!'", acrescentou o estudante amigo dos militares, Anthony Sadler.

Segundo imagens filmadas com um telefone celular no interior do trem, e divulgadas por canais de televisões, é possível ver o criminoso - um jovem magro, com calça clara e o peito nu - no chão com as mãos atadas nas costas. Uma kalashnikov aparece apoiada em um assento, e é possível observar uma mancha de sangue em uma janela do vagão.


"Ninguém nos respondeu"


Por sua vez, um ator francês, Jean-Hughes Anglade, que estava a bordo do trem onde ocorreu o ataque, acusou os funcionários da companhia de terem se trancado em uma cabine, negando-se a prestar ajuda.

"Os membros da equipe a bordo correram pelo corredor com as costas encurvadas. Seus rostos estavam lívidos. Se dirigiam à motriz, seu vagão de trabalho. Abriram com uma chave especial e se trancaram dentro", denunciou o ator.

"Estávamos uns em cima dos outros, batendo na porta metálica da motriz, gritando, para que a equipe nos deixasse entrar", mas "ninguém nos respondeu", explicou à revista Paris-Match.

Em resposta a estas acusações de abandono, a diretora do Thalys, Agn;s Ogier, afirmou que os agentes do trem alertaram o condutor e um deles se escondeu com vários passageiros.

"Um agente viu uma bala passar perto. Foi se refugiar com cinco ou seis viajantes no ;furgão;", um espaço em um extremo do trem no qual é possível deixar bagagem e que é aberto com uma chave especial, contou Ogier à AFP após se reunir com os agentes.

Este funcionário do trem "deu o sinal de alerta (...) Depois, quando o trem parou, saiu para alertar o setor dianteiro e o condutor", acrescentou.

O ataque ocorreu na parte de trás do trem, em um Thalys composto por duas seções acopladas. Em cada seção há dois agentes contratados pela empresa ferroviária francesa, a SNCF, ou a belga, a SNCB.

Durante este tempo, o segundo agente alertou o condutor através do telefone do trem.

Segundo o regulamento francês, os agentes têm que dar o sinal de alerta antes de parar o trem, disse a diretora do Thalys.

Após o ataque no trem, os serviços antiterroristas franceses assumiram as investigações. A procuradoria federal belga também abriu uma investigação antiterrorista por este caso.

Além disso, a Bélgica decidiu neste sábado reforçar as medidas de segurança em trens e estações do país.

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