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Após morte de ditador, Líbia está dominada por milícias que disputam poder

Moradores lamentam insegurança e sentem saudade do regime

Rodrigo Craveiro
postado em 23/08/2015 08:00
Soldado leal ao premiê Abdullah Al-Thinni e ao ex-general Khalifa Haftar descansa em Benghazi: capital do leste é alvo de ofensiva jihadista
Após quase 42 anos de um regime despótico, a face ensanguentada de Muamar Kadafi, subjugado por combatentes do Conselho Nacional de Transição (CNT), parecia um divisor de águas, uma espécie de bilhete para a democracia. Desde a morte do ditador, em 20 de outubro de 2011, a Líbia mergulhou no caos: as instituições ruíram, milícias com agendas distintas invadiram o país, islamitas e secularistas se aproveitaram do vácuo de poder e decretaram governos próprios. O conflito sem solução no horizonte e o sofrimento cotidiano levam milhares de líbios a fugir para a Europa, arriscando-se na travessia do Mar Mediterrâneo.

Morador de Trípoli, o engenheiro Omar Mohammed Werfalli, 35 anos, não esconde a saudade do governo de Kadafi. ;A situação por aqui é péssima, bem como as condições de vida. Há uma guerra entre milícias, além da ausência do Exército e da polícia. Podemos morrer a qualquer momento por bala perdida;, lamenta, em entrevista ao Correio. ;Não temos governo. O que existe são autoridades falsas: um ;governo; em Trípoli e outro em Tobruk.;

Os islamitas da coalizão Alvorecer da Líbia, aliados à milícia Fajr Líbia, controlam a capital. Pouco mais de mil quilômetros a leste, em Tobruk, está o governo comandado por Abdullah Al-Thinni, o primeiro-ministro reconhecido pela comunidade internacional. Os extremistas da Ansar Al-Sharia contam com o auxílio da Fajr Líbia para implementar a sharia (lei islâmica) em todo o país. Também no leste, o ex-general Khalifa Haftar combate milicianos. No entanto, a pior ameaça é representada pelo Estado Islâmico, que executou soldados leais a Al-Thinni e decapitou 30 cristãos etíopes.

;A crise seria resolvida com o retorno do antigo regime e a entrega do comando da nação a Seif Al-Islam, filho de Kadafi;, opina Werfalli. ;O povo lamenta a revolução. Hoje, a situação é bem pior, pois não temos segurança.; Também em Trípoli, o blogueiro Amjad Bader, 23, conta à reportagem que as milícias se espalharam por todo o território líbio. ;Elas têm o mesmo intuito de governar e seguem diferentes ideologias: são islâmicas, liberais e étnicas. A guerra pelo poder também envolve tropas e simpatizantes do antigo ditador;, admite. ;A situação por aqui é pior do que estava durante o regime de Kadafi. O governo se compõe de diferentes alianças: um regime com fundo islâmico e outro mais liberal, aliado a simpatizantes de Kadafi. Os muçulmanos comandam o oeste, enquanto os nacionalistas dominam o leste;, acrescenta Bader. Hala Ali, 18, estudante em Trípoli, concorda. Diz que todos lutam pelo poder na Líbia e o povo é quem sofre. ;Nós estamos cansados. Todos aqui queremos o retorno da Líbia como era no passado. Sob Kadafi, ao menos a situação de segurança era boa.;

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