O presidente francês, François Hollande, concedeu nesta segunda-feira a Legião de Honra aos três jovens americanos e ao britânico que neutralizaram na sexta-feira Ayoub El-Khazzani no momento em que o marroquino tentava abrir fogo com um fuzil em um trem lotado de passageiros.
"Sexta-feira à noite, um indivíduo havia decidido cometer um atentado no Thalys. Tinha armas suficientes e munição para executar um verdadeiro massacre. É o que ele teria feito se vocês não o tivessem neutralizado, inclusive colocando as próprias vidas em perigo", disse Hollande durante a cerimônia solene.
Spencer Stone, de 23 anos e Alek Skarlatos, 22 - dois soldados de férias na Europa -, seu amigo Anthony Sadler, 23, e o britânico Chris Norman, de 62 anos, receberam o título de "cavaleiros da Legião de Honra" em uma cerimônia no Palácio do Eliseu de Paris.
"Como testemunho de nosso reconhecimento, decidi, de maneira excepcional, condecorá-los com a Legião de Honra", ressaltou.
A maior condecoração francesa também será entregue em uma cerimônia posterior a um passageiro francês - que deseja permanecer no anonimato -, que foi o primeiro a tentar neutralizar o agressor, e ao franco-americano Mark Moogalian, de 51 anos, que foi ferido por um tiro e permanece internado em um hospital de Lille (norte).
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Segundo os médicos, Moogalian não corre risco de morte, mas seu estado de saúde ainda é "preocupante".
As autoridades também reconheceram o papel desempenhado por dois outros franceses, um agente da companhia ferroviária do país, a SNCF, Eric Tanty, que estava de férias no momento do ataque e que, segundo Spencer Stone, os ajudou a neutralizar El-Khazzani. E o segundo, Michel Bruet, chefe de bordo do trem que chutou para longe uma das armas do terrorista.
Muitos jornalistas estavam presentes na cerimônia, assim como o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, seu colega belga, Charles Michel, e a embaixadora americana na França, Jane Hartley, além de vários ministros franceses.
A cerimônia ocorre no terceiro dia de prisão preventiva do marroquino Ayoub El-Khazzani, que garante que sua intenção não era cometer um ato terrorista.
Os investigadores prosseguem nesta segunda-feira com o interrogatório do suspeito, de 25 anos, fichado por seu perfil de islamita radical pelos serviços de inteligência de quatro países europeus (Espanha, França, Alemanha e Bélgica).
O suspeito nega a motivação terrorista e alega que desejava executar um roubo, uma versão descartada tanto pelos investigadores como pelos passageiros americanos.
Telefones analisados
Aos investigadores, Ayoub El-Khazzani afirma ter acidentalmente encontrado o armamento utilizado no trem em uma mala em um jardim público perto da estação de trem de Bruxelles-Midi, onde ele dormia com outros sem-teto.
Ele teve a ideia de usá-las para roubar os passageiros do Thalys, segundo uma fonte próxima à investigação.
"Ele está chocado com o caráter terrorista atribuído à sua ação", disse a advogada que o representou no início de sua custódia em Arras (norte), antes de sua transferência para a sede da inteligência francesa perto de Paris.
Ela o retratou um homem "esquelético" e "ignorante".
Os investigadores privilegiam a pista de um ataque terrorista. Dois telefones celulares foram encontrados com o suspeito durante a operação.
Além de uma Kalashnikov, El-Khazzani levava nove carregadores, uma pistola automática Luger e uma faca com a qual machucou Spencer Stone.
De acordo com o inquérito, o agressor entrou no trem para Bruxelas "com armas adquiridas provavelmente na Bélgica e tinha documentos emitidos na Espanha".
O jovem viveu sete anos na Espanha, de 2007 a 2014, e passou a ser vigiado pelos serviços de segurança por seus discursos legitimando a Jihad. De acordo com a inteligência espanhola, ele teria partido da França para a Síria, o que ele nega, antes de retornar à França.
Uma operadora de tefonia móvel, Lycamobile, confirmou que El-Khazzani esteve na França e que o empregou entre fevereiro e abril de 2014, antes de romper seu contrato.
O pai de Ayoub El-Khazzani disse no domingo que seu filho era "um bom rapaz, que trabalhava muito e nunca falava em política".
O ataque frustrado contra Thalys provocou um debate na França sobre a segurança no transporte ferroviário.
Excluindo o uso sistemático de portões de segurança nas estações, em razão do enorme número de viajantes, o secretário de Estado para os Transportes, Alain Vidal, defendeu o reforço das revistas aleatórias de bagagens.