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Jornalistas assassinados ao vivo na tv são homenageados nos EUA

A repórter Alison Parker, de 24 anos, e o cinegrafista Adam Ward, de 27, foram mortos na quarta-feira a tiros por Vester Lee Flanagan enquanto realizavam uma entrevista ao vivo para o canal WDBJ

Roanoke - Mostras de dor e homenagens aos dois jornalistas assassinados por um ex-colega que depois se suicidou foram registrados nesta quinta-feira nos Estados Unidos, enquanto o tema do controle de armas voltava a ser discutido.

A repórter Alison Parker, de 24 anos, e o cinegrafista Adam Ward, de 27, foram mortos na quarta-feira a tiros por Vester Lee Flanagan enquanto realizavam uma entrevista ao vivo para o canal WDBJ, afiliado à CBS em Roanoke, Virgínia, 385 km a sudeste de Washington.

Flanagan, de 41 anos e negro, havia trabalhado para a WDBJ até sua demissão, em 2013, "após vários incidentes que fizeram aflorar sua ira", disse o gerente do canal, Jeffrey Marks.

Os funcionários da rede de televisão observaram nesta quinta-feira um momento de silêncio 24 horas exatas após os assassinatos."Com o tempo, iremos nos reerguer", disse emocionada a apresentadora do noticiário, Kimberly McBroon, de mãos dadas com os colegas.

Durante o tributo, foram mostradas fotografias dos dois jornalistas.Do lado de fora do canal, as pessoas prestavam homenagem aos jornalistas depositando buquês de flores e atando balões a uma árvore.

"Ela tinha a vida pela frente. Eu tinha uma vida pela frente ao lado dela", declarou o apresentador da WDBJ, Christ Hurst, namorado de Parker, à NBC News.

"Quantos massacres teremos que vivenciar para que o público proteste?", questionou o prefeito de Roanoke, David Bowers, na rede CNN. "Não chegamos a um acordo sobre isso (a posse de armas) nos Estados Unidos".

Coração partido

Familiares, amigos e toda a comunidade choravam pelas mortes, que reavivaram as convocações pela limitação do acesso às armas de fogo nos Estados Unidos, colocando mais uma vez o recorrente tema da violência em destaque. Ao que parece, Flanagan comprou a arma de forma legal."Me dói o coração que aconteça algo como isso", lamentou o presidente Barack Obama à WPVI, estação local da rede ABC na Filadélfia.Obama lamenta o fato de nunca ter conseguido implantar o controle de armas.

"O que sabemos é que o número daqueles que morrem em incidentes relacionados com armas de fogo é muito maior do que o de vítimas do terrorismo", lembrou.

A Casa Branca pediu novamente que o Congresso legisle sobre a venda e o uso de armas de fogo."Devemos agir para deter a violência com armas de fogo, não podemos esperar mais", escreveu a pré-candidata democrata Hillary Clinton no Twitter.

Mas são poucas as esperanças desde que o Congresso passou a ser dominado pelos republicanos, hostis a qualquer regulamentação da posse de armas.Andy Parker, pai de Alison, lançou após os assassinatos um apelo emocionado para que seja feito um controle de armas.

"Devemos fazer algo a respeito das pessoas loucas que têm acesso a armas", disse à Fox News, prometendo fazer todo o possível para fazer adotar uma legislação sobre as armas de fogo "e preencher os vazios legais e a verificação dos antecedentes" criminais dos compradores.

Para o polêmico candidato republicado Donald Trump, o problema não está nas armas, mas nas doenças mentais. "Deveríamos nos concentrar nisso (saúde mental), mais do que nas armas", disse Trump.

Bomba humana

A rede ABC News anunciou ter recebido um manifesto de 23 páginas duas horas após a morte dos jornalistas da WDBJ.No manifesto, Flanagan disse ter sido levado ao limite pelo massacre em junho de fiéis negros em uma igreja de Charleston, Carolina do Sul.

"O tiroteio na igreja foi o ponto culminante (...), mas minha raiva estava aumentando (...) era uma bomba humana (...) esperando para fazer BUM!", disse no texto.

No documento, classificado por ele de nota de "suicídio para amigos e familiares", se queixa de discriminação racial e perseguição "por ser um gay negro".Mas afirma que o tiroteio na igreja de Charleston foi o que o levou a cometer os assassinatos de quarta-feira.Marks, o gerente da WDBJ, considerou o manifesto como "sandices".

Alison Parker entrevistava Vicki Gardner, titular da Câmara de Comércio de Smith Mountain Lake, em uma varanda de um complexo turístico em Moneta, perto de Roanoke, quando o ataque ocorreu.

Gardner, de 62 anos, ficou gravemente ferida, foi internada no hospital de Roanoke e seu estado era estável. No vídeo fica evidente que ninguém percebe a presença do atirador, já que o cinegrafista está de costas e a jornalista está concentrada na entrevista.

O violento episódio colocou em evidência como a internet pode ser uma vitrine para publicar horrendos crimes.