Centenas de migrantes se apressaram nesta segunda-feira em trens partindo de estações ferroviárias em Budapeste com destino a Alemanha, num momento em que a chanceler alemã Angela Merkel advertiu que o fracasso de uma resposta à crise migratória comprometeria os ideais da União Europeia.
Engarrafamentos bloqueavam a fronteira entre a Hungria e a Áustria, onde os controles foram reforçados para rastrear traficantes, enquanto os europeus mostravam suas divergências sobre a atitude a ser adotada ante a crise migratória.
"Os direitos civis universais estiveram até este momento estreitamente ligados à Europa e sua história, como um princípio fundador da União Europeia", declarou Merkel numa coletiva de imprensa em Berlim, considerando que "se a Europa falhar na crise de refugiados, esta ligação com os direitos civis universais será quebrada, será destruída".
Apontando para a crise migratória nos últimos tempos, Merkel defendeu mais uma vez o estabelecimento de quotas de acolhimento por país europeu para os migrantes que entram na Europa, uma ideia rejeitada por muitos Estados. A Alemanha espera receber 800.000 pedidos de asilo este ano, quatro vezes mais do que em 2014.
Neste contexto, as autoridades húngaras permitiram nesta segunda o embarque em trens com destino à Áustria e Alemanha de várias centenas de migrantes que haviam passado dias em estações em Budapeste, transformadas em campos de refugiados improvisados.
Assim, nenhuma força policial da estação ferroviária de Keleti era visível. Um comboio que transportava entre 300 e 400 migrantes foi parado na fronteira austríaca, segundo a polícia austríaca. Os migrantes, em sua maioria refugiados sírios, foram forçados a desembarcar.
Aqueles que haviam apresentado um pedido de asilo na Hungria deveriam ser devolvidos a Budapeste, em conformidade com as regras europeias, enquanto as pessoas sem registro foram autorizadas a prosseguir viagem. O trem chegou a Viena esta noite. Muitos migrantes embarcaram logo em seguida para trens para Salzburg ou Munique (Alemanha).
Do Mediterrâneo ao Ártico
Aqueles que viajam de carro da Hungria para a Áustria precisavam esperar em engarrafamentos de até 50 km perto da fronteira. A polícia parava cada caminhão, van ou carro, à procura de traficantes de seres humanos.
Estas medidas foram postas em prática no domingo à noite após um caminhão abandonado ser encontrado na semana passada no estado de Burgenland, perto da fronteira com a Hungria, com 71 corpos em decomposição de migrantes.
Na Alemanha, cerca de 1.785 supostos traficantes foram detidos entre janeiro e julho, mais "300 ou 400" apenas no mês de agosto, informou nesta segunda-feira a polícia alemã.
No norte, sul ou leste, dezenas de milhares de migrantes, muitas vezes refugiados fugindo das guerras no Oriente Médio ou Ásia, tentam alcançar o espaço Schengen.
No Mar Mediterrâneo, cerca de 119 migrantes foram resgatados nesta segunda-feira a bordo de um barco inflável à deriva ao largo da costa da Líbia por um navio fretado pela ONG MSF.
A 4.000 km em linha reta de Damasco, cerca de 150 migrantes, sobretudo refugiados sírios, encontraram desde o início do ano no Ártico uma nova porta de entrada passando pela fronteira entre a Rússia e a Noruega (que não é membro da UE, mas pertence ao espaço Schengen), informou a polícia norueguesa nesta segunda-feira.
"Tiveram até alguns que passaram de bicicleta em pleno inverno", a passagem é proibida aos pedestres, disse à AFP o número dois do posto fronteiriço de Storskog, lado norueguês, o inspetor G;ran Stenseth. "O frio, a neve, a escuridão... Tudo isto constitui um desafio para essas pessoas".
UE dividida
A crise tem estremecido as relações entre os europeus, cujas divisões são nítidas.
Determinados a mostrar a sua rejeição às quotas de migrantes, os primeiros-ministros do Grupo de Visegrado (Hungria, Polônia, Eslováquia, República Checa) vão participar em Praga nos próximos dias de uma reunião sobre a questão da migração.
Vários líderes ocidentais criticaram recentemente os países do leste europeu membros da UE por sua relutância em participar no acolhimento de migrantes.
À margem de uma conferência regional na Eslovênia, o presidente do Conselho Europeu Donald Tusk fez o papel de conciliador, considerando que a Europa "faz o melhor que pode" sobre esta questão, embora lamentando que o que faz "não é eficaz".
Por ocasião de uma visita a Calais (norte da França), um dos lugares emblemáticos da crise migratória, o primeiro vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, reconheceu que, embora "o número de chegadas sejam importantes", são "completamente gerenciáveis para um conjunto de 500 milhões de pessoas".
Para ele, a situação "exige uma resposta europeia comum (...) Trata-se acima de tudo ser fiel aos nossos valores, os valores da humanidade."