Agência France-Presse
postado em 01/09/2015 15:05
Autoridades húngaras ordenaram nesta terça-feira (01/09) a evacuação da principal estação ferroviária de Budapeste, onde centenas de refugiados esperavam embarcar em trens para a Áustria ou Alemanha, em um momento em que a Europa permanece dividida ante a maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial.A estação de Keleti foi então reaberta, mas apenas para não-migrantes. A polícia permite apenas a entrada de titulares de documentos de viagem, documentos de identidade e vistos, constatou um jornalista da AFP.
A evacuação, que decorreu sem incidentes, provocou uma manifestação espontânea de 200 refugiados na estação gritando "Alemanha, Alemanha" e "queremos sair".
"Nenhum trem chegará ou deixará a estação ferroviária de Keleti até novo aviso. Pedimos a todos a deixar o local", havia anunciado uma mensagem transmitida por alto-falante.
"Estou furioso", declarou Haider, um afegão de 31 anos, rasgando a sua passagem de trem. "Por que os húngaros não deixam que a gente simplesmente vá embora? Eu trabalhei como tradutor para o Exército americano durante quatro anos".
A decisão de evacuação da principal estação de Budapeste para viagens internacionais ocorreu quando cerca de 500 migrantes tentavam embarcar, em meio ao caos, a bordo do último trem para Viena, que partiria às 7h10 GMT (4h10 de Brasília). No dia anterior, as autoridades húngaras finalmente permitiram que candidatos ao exílio deixassem os acampamentos improvisados em frente às estações ferroviárias da capital.
O resultado: um total de 3.650 migrantes, muitos dos quais sem vistos, chegaram na segunda-feira à noite em Viena, um recorde este ano para um único dia, segundo informou nesta terça-feira a polícia austríaca. "Nós verificamos quantos deles são requerentes de asilo", indicou o porta-voz da polícia austríaca, Patrick Maierhofer.
Muitos deles passaram a noite na estação ferroviária de Westbahnhof em Viena, na esperança de continuar a sua viagem para a Alemanha, que na semana passada flexibilizou as condições para a concessão do estatuto de refugiado aos sírios que fogem da guerra em seu país.
Outros migrantes puderam embarcar na segunda-feira em um trem para a cidade austríaca de Salzburgo, outros para Munique, no sul da Alemanha.
Desafio maior
"A crise migratória é o maior desafio para a Europa nos próximos anos", considerou nesta terça-feira o primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy em Berlim, enquanto que o continente vivencia seu maior movimento migratório desde a Segunda Guerra Mundial, com o afluxo de pessoas que fogem da guerra, perseguição e pobreza no Oriente Médio e na África.
Mais de 350.000 migrantes cruzaram o Mediterrâneo desde janeiro, e 2.643 pessoas morreram no mar depois de tentar a travessia, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), com sede em Genebra.
Mas os 28 países membros da União Europeia permanecem divididos sobre a escalada da crise, antes de uma nova reunião de emergência marcada para 14 de setembro.
Várias autoridades ocidentais criticaram recentemente os países do leste europeu membros da UE por sua relutância em participar no acolhimento de migrantes.
A Hungria, criticada pela França pela cerca erguida em sua confreira e pela Áustria por sua "negligência" na aplicação das regras europeias de asilo, convocou os embaixadores dos dois países para explicações.
Por sua vez, a chanceler alemã Angela Merkel advertiu em Berlim que o fracasso de uma resposta à crise colocaria em risco os próprios ideais da União Europeia. "Se a Europa fracassar na crise de refugiados, a relação com os direitos civis universais será quebrada, ela será destruída", disse. Ela criticou implicitamente países como a Eslováquia. "Se começarmos a dizer ;eu não quero muçulmanos;, isso não pode ser bom", declarou.
Na liderança da crise nos últimos tempos, Merkel chamou mais uma vez para o estabelecimento de quotas por país europeu para os migrantes que entram na Europa, uma ideia rejeitada por muitos Estados.
A Alemanha espera receber 800.000 pedidos de asilo este ano, quatro vezes mais do que em 2014. As pessoas que viajam por estrada da Hungria para a Áustria continuam nesta terça-feira a esperar em enormes engarrafamentos perto da fronteira. A polícia para cada caminhão, van ou carro, em busca dos traficantes de seres humanos.
Estas medidas foram postas em prática no domingo à noite, três dias depois de um caminhão abandonado ser descoberto em Burgenland, perto da fronteira com a Hungria, com 71 corpos em decomposição.
Sete pessoas foram presas na Hungria e Bulgária, quatro búlgaros e três afegãos, em conexão com este caso macabro. Cerca de 20.000 pessoas manifestaram em Viena segunda-feira à noite em apoio aos migrantes, enquanto as autoridades participavam de uma missa em homenagem às vítimas do caminhão.