Agência France-Presse
postado em 02/09/2015 12:21
Riade, Arábia Saudita - O grande mufti da Arábia Saudita, o xeque Abdulaziz bin Abdullah al Sheikh, autoridade máxima religiosa do país, denunciou nesta quarta-feira (2/9) que o filme iraniano "Maomé" é contrário ao Islã. "É um filme pagão e uma obra hostil ao Islã", afirmou o mufti em uma declaração publicada pelo jornal Al Hayat. Segundo o líder religioso, exibir o filme, segundo a sharia (a lei islâmica) é algo ilícito."É uma distorção do Islã", sentenciou o mufit, um dos religiosos mais importantes do Islã sunita, que proíbe qualquer representação do profeta Maomé. Por sua parte, a Liga Mundial Islâmica, com sede em Meca, criticou o filme, denunciando o fato de "representar o profeta Maomé".
Em um comunicado, o secretário-geral Abdullah al-Turki pediu aos dirigentes iranianos que "suspendam a exibição do filme, uma violação de nossas obrigações em relação ao profeta". Ele também pediu que todos os muçulmanos boicotem a obra.
No início do ano, o grande imã da Universidade de Al Azar, do Cairo, Ahmed al Tayeb, uma das principais autoridades do Islã sunita, já havia se oposto a qualquer representação do profeta que, segundo ele, "diminui seu status espiritual". No entanto, no filme em questão, o rosto de Maomé jamais é visto, e sim apenas sua silhueta.
Leitura equivocada
O filme "Maomé", que narra os primeiros anos da vida do profeta e se converteu no filme mais caro da indústria cinematográfica iraniana, estreou nos cinemas do Irã na semana passada, com um enorme interesse por parte do público.
Dirigido por Majid Majidi, o filme de 171 minutos contou com um orçamento de 40 milhões de euros, em parte financiado pelo Estado iraniano, e levou mais de sete anos para chegar às telas. A estreia da superprodução estava prevista para quarta-feira, mas acabou adiada em um dia por motivos técnicos, segundo o produtor e distribuidor do filme, Mohammad Reza Saberi.
Majid Majidi, um dos cineastas mais renomados do Irã, conta em sua mais recente produção a infância do profeta para tentar acabar com a "imagem violenta" do islã, segundo afirmou em uma entrevista à AFP antes da estreia do filme. As filmagens aconteceram em uma reprodução da cidade de Meca ao sul de Teerã.
O experiente ator e cineasta, de 56 anos, que já dirigiu filmes premiados no exterior ("Baran", "Filhos do Paraíso"), afirma que a escolha do tema é bem clara. "Nos últimos anos, uma leitura equivocada do Islã no mundo ocidental originou uma imagem violenta deste que não tem nenhuma relação com sua verdadeira natureza", disse.
Para Majid, esta "leitura equivocada" se deve a "grupos terroristas como o Estado Islâmico, que não tem vínculos com o islã, de cujo nome se apropriaram e que desejam passar uma imagem aterrorizante no mundo desta religião". "Como artista muçulmano, meu objetivo era criar uma visão (do Islã) que mude a que existe no Ocidente, que se resume geralmente a um terrorismo islâmico vinculado à violência", afirmou o cineasta. "O Islã é diálogo, bondade e paz", assegurou.
Majid tenta ser otimista a respeito da polêmica e possível violência que seu filme pode provocar no mundo muçulmano, no qual a representação do profeta Maomé está proibida. "Países como a Arábia Saudita terão problemas com este filme, mas muitos outros países muçulmanos o pediam", disse.
Majidi considera que seu filme deve "unir" e não dividir os muçulmanos sunitas e xiitas, que travam batalhas violentas em vários países da região, como Iraque, Iêmen ou Síria. Antes do lançamento, o filme foi exibido a líderes religiosos das duas confissões no Irã e na Turquia, que o avaliaram "positivamente", segundo o diretor.
O cineasta deseja que "Maomé" represente o primeiro filme de uma trilogia, pois "não é possível mudar a imagem ruim do islã com apenas um filme".
A segunda e a terceira parte não têm data para o início das filmagens e estas produções não serão necessariamente dirigidas por Majid, que convida todos os cineastas muçulmanos a seguir o seu caminho.