Nanterre, França - Os juízes franceses encarregados da investigação sobre a morte de Yasser Arafat descartaram a denúncia de assassinato do líder palestino por falta de provas, uma decisão anunciada publicamente nesta quarta-feira e que será contestada pela viúva.
Os três magistrados, que seguiram uma recomendação da procuradoria, consideraram que "após investigações (...) não foi provado" que o presidente da Autoridade Palestina, morto em 2004 na França, foi assassinado, indicou a procuradoria de Nanterre (oeste de Paris).
Nenhum indiciamento foi apresentado neste caso.
A decisão da justiça não encerra o caso, uma vez que a viúva de Araft, Suha Arafat, que apresentou uma denúncia devido à suspeita de envenenamento, pretende contestá-la, indicaram à AFP seus advogados, Francis Szpiner e Renaud Semerdjian.
"Vamos continuar nossas investigações para encontrar o assassino de Arafat, até esclarecermos como ele foi morto", reagiu de forma similar Tawfiq Tirawi, presidente da comissão investigadora da Autoridade Palestina criada em 2009.
As causas da morte do presidente da Autoridade Palestina, que faleceu em 11 de novembro de 2004, aos 75 anos, no hospital militar de Percy, em Clamart, perto de Paris, depois de um rápido agravamento de seu estado de saúde em Ramallah, jamais foram esclarecidas.
Em 2012, três juízes de Nanterre foram encarregados da investigação lançada depois da denúncia de Suha Arafat após a descoberta, tardia, de polônio 210 em objetos pessoais de seu marido.
No momento da morte de Arafat, esta substância radioativa muito tóxica, que matou em 2006, em Londres, o ex-agente russo Alexandre Litvinenko, era muito pouco conhecida.
Em novembro de 2012, o túmulo de Arafat foi aberto em Ramallah e três equipes de investigadores franceses, suíços e russos recolheram amostras dos restos mortais do líder palestino para examiná-las.
Um centro da cidade suíça de Lausanne encontrou nas amostras de Arafat "níveis anormais de polônio", um potente elemento radioativo.
Mas os especialistas franceses consideraram que a concentração de polônio e chumbo encontrados no túmulo de Arafat tinham como origem o ;meio ambiente;, explicou, em abril, a promotora de Nanterre, Catherine Denis, depois de receber as conclusões dos três juízes que investigam o caso.
Durante exames complementares, os franceses voltaram a examinar os dados das análises realizadas em 2004 pelo serviço de proteção radiológica do exército em amostras de urina de Arafat. Estes não apontaram para polônio.
"A falta de investigação conduz inevitavelmente à conclusão de que não há provas suficientes", comentaram os advogados da senhora Arafat, denunciando "uma investigação fundamentalmente tendenciosa" e "conclusões precipitadas, que só se baseiam em uma parte dos registros do caso".
"Qual é o interesse em recusar todos os pedidos de investigações e não deixar que a investigação continue?", questionaram.
Todos os pedidos de investigações adicionais foram rejeitados pela justiça, incluindo a requisição de uma "nova análise por um colegiado internacional", além da convocação para depor dos médicos do hospital de Clamart para explicar a aparição "misteriosa" dos resultados das análises de uma amostra de urina, até então desconhecidos.
Segundo os advogados, esses elementos não foram incluídos no dossiê, motivo suficiente para anular a perícia complementar. Seu pedido, arquivado em julho, não chegou a ser examinado
Os advogados também indicaram que estão refletindo sobre a possibilidade da apresentação de uma queixa por "violação do segredo de justiça" contra um dos juízes, Jacques Cazeaux, que em um livro sobre o assunto escrito por um jornalista francês "tinha dito que o assunto acabaria sendo arquivado".
Os palestinos acusam Israel, que sempre negou, de ter envenenado Yasser Arafat. Mas alguns também suspeitam da colaboração de um palestino nesta morte, em meio a disputas de poder.