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Economia da Guatemala parece em boa forma, mas é corroída pela corrupção

A seus principais sócios comerciais - Estados Unidos e seus vizinhos da América Central - o país exporta fundamentalmente "café, bananas, açúcar, produtos têxteis"

Agência France-Presse
postado em 03/09/2015 16:56
Em pleno crescimento e dotada de uma moeda forte, a economia guatemalteca é uma das mais sólidas da América Central, mas o país está corroído pela corrupção, que tem um custo considerável para o fisco. "A economia guatemalteca apresenta um crescimento muito estável, de 3% a 4% anual, nesses últimos anos", observa Francisco de Paula Gutiérrez, professor na escola de comércio Incae, da Costa Rica.

[SAIBAMAIS]A seus principais sócios comerciais - Estados Unidos e seus vizinhos da América Central - o país exporta fundamentalmente "café, bananas, açúcar, produtos têxteis", disse este docente, que ressalta igualmente a solidez da moeda local, o quetzal, em um contexto em que a maior parte das divisas latino-americanos sofreram forte desvalorização. "No entanto, os indicadores de competitividade, de desenvolvimento humano, de pobreza, são muito fracos", lembra Gutiérrez, explicando esses dados em função das baixas receitas, de aproximadamente 10,5% do PIB.

"Na América Central, a Guatemala está no grupo de nações com maior crescimento", ressalta Mynor Cabrera, da Fundação Econômica para o Desenvolvimento (Fedes). "O país conta com quatro motores: o setor financeiro, as telecomunicações, a energia e as indústrias extrativas, como de mineração e petróleo", afirmou. O economista, contudo, critica a debilidade das receitas. "A Guatemala não tem de capacidade, em termos de receita, para contar com serviços públicos de qualidade", destaca.



Foi por um escândalo de corrupção que Otto Pérez renunciou à presidência, depois que o Parlamento retirou sua imunidade depois de ser acusado de dirigir uma rede que exonerava de impostos em troca de subornos, e de um juiz ter emitido na quarta-feira uma ordem de prisão para que seja interrogado pela justiça.

"A corrupção devorou o Estado", resume Manfredo Marroquín, diretor da ONG Ação Cidadã, braço local da organização anticorrupção Transparência Internacional. "Quase todos os serviços públicos ruíram", completa. Ele o exemplo dos hospitais, "em que se pede às famílias dos pacientes que comprem algodão, tesouras, porque não há material, nem itens os itens mais básicos.

Na educação, acrescenta Marroquín, "pode-se encontrar escolas construídas há 50 anos que ficaram sem teto, que não têm mesas suficientes para todos os alunos, com chão de terra".

US$ 500 milhões evaporados

O Instituto Centro-americano de Estudos Fiscais (Icefi) calculou semanas atrás, em colaboração com a ONG Oxfam, o custo da corrupção para os cofres do Estado.

"O que encontramos, apesar desta medição ser muito difícil por seu lado obscuro e pelas múltiplas facetas deste flagelo, é que cerca de 30% do orçamento é vulnerável à corrupção, em razão da falta de transparência e controles e de uma legislação ambígua", disse Jonathan Menkos, diretor-executivo do Icefi.

"Se 20% desse total se perde efetivamente em corrupção -o nível mínimo observado no resto do mundo- teríamos uma perda de aproximadamente de 4,2 bilhões de quetzales, cerca de 500 milhões de dólares". "O custo final da corrupção representa quatro vezes o orçamento atual do ministério público, encarregado de lutar contra ela", lamenta Menkos.

O instituto comparou esses números com os gastos sociais do Estado em um país em que 53,7% da população vive abaixo da linha de pobreza, segundo os dados do Banco Mundial. "Os 500 milhões de dólares evaporados equivaleriam a mais ou menos três quartos do orçamento de saúde pública, a 3,5 milhões de crianças sem alimentação e sem escola e à perda de aproximadamente 5.000 bolsas de estudos", aponta.

Também significa "800.000 adolescentes sem possibilidades de acessar programas de prevenção à violência, em um país em que os jovens são frequentemente utilizados pelo crime organizado, responsável pela maior maior parte das 6.000 mortes violentas registradas por ano.

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