Bona, Alemanha - Apesar dos avanços sobre a questão da compensação pelos países ricos dos estragos climáticos sofridos pelos mais pobres, os negociadores da ONU sobre o clima reunidos em Bonn fizeram poucos progressos rumo a um acordo universal, a três meses da conferência de Paris.
"Os impactos [das mudanças climáticas] aumentam em inúmeras partes do mundo e os pobres são particularmente atingidos na medida em que não recebem compensações" pelos danos sofridos, como a perda de suas casas, declarou à AFP Martin Kaiser, do Greenpeace.
Alguns países, como as pequenas ilhas que correm o risco de serem submersas pela elevação do nível dos oceanos devido ao aquecimento global, querem que o acordo aguardado para a conferência de Paris (COP21) em dezembro preveja uma compensação.
Os representantes de 195 estados tentarão concluir um acordo universal para limitar em dois graus a alta das temperaturas, limite estabelecido por especialistas da área para evitar desgastes irreversíveis.
A questão das compensações "sempre foi um assunto muito polêmico", entre países ricos e países em desenvolvimento, lembra Romain Benicchio da ONG Oxfam.
Reconhecendo suas responsabilidades históricas na emissão de gases de efeito estufa, na origem do aquecimento, os países desenvolvidos sempre se recusaram a dar um cheque em branco aos países pobres atingidos.
Um texto ;incoerente
Mas "começa a haver um movimento no bom sentido", e especialmente "sinais positivos" dados pelos Estados Unidos "sobre o reconhecimento do problema", explica Benicchio.
Ao longo de uma reunião feita a portas fechadas no início da semana, um delegado norte-americano indicou aos negociadores que as compensações poderiam fazer parte do acordo de Paros, segundo dois participantes.
Desde o início da sessão de negociações nesta segunda-feira, "houve uma enorme mudança" de atitude, "em especial dos países desenvolvidos", comemorou à AFP Amjad Abdulla, das ilhas Maldivas, em nome da Aliança das Pequenas Ilhas (Aosis). "Queremos ver um consenso pela concretização desta questão", acrescentou.
Mas sobre o texto de negociação, que configura o futuro acordo de Paris, os negociadores não conseguiram mais avançar - apesar das inúmeras reuniões em grupos temáticos.
"Cada um considera que é o outro que tem que ceder. Todo mundo diz ;não avançamos; mas ninguém diz ;eu retiro tal e tal proposição;", resume Pierre Radanne, conselheiro sobre o clima de diversos países africanos. "Ninguém cedeu em cada concretamente".
Os delegados se debruçam agora sobre um texto apenas um pouco menos longo do que o que foi examinado no último encontro, em junho. Ele comporta todas as opções possíveis pelo conjunto das questões debatidas.
O documento ainda é "incoerente na medida em que há um monte de posições expressas na primeira parte, e grandes pedaços jogados na terceira parte e não dá para ter uma vista do todo", lamentou o negociador malaio Gurdial Singh Nijar à AFP. "Não há coerência entre as seções".
"Nós não estamos avançando rumo à redação de um texto coerente", acrescentou.
Na quarta-feira, ao longo de uma plenária convocada pelos delegados, a lentidão dos trabalhos foi criticada, já que resta apenas uma última sessão de negociações - cinco dias em outubro - antes da COP21.
Nesta quinta, uma coalizão de países, entre eles China, Índia e vários países africanos, sul-americanos, do Oriente Médio e da Ásia, pediu "negociações verdadeiras, concretas".
Pois inúmeros assuntos ainda estão sobre a mesa, especialmente a questão crucial dos 100 bilhões de dólares que os países ricos prometeram investir todos os anos nos mais pobres a partir de 2020.