O Reino Unido fornecerá 150 milhões de dólares adicionais para aliviar a "crise humanitária" síria e acolherá milhares de outros refugiados, anunciou nesta sexta-feira seu primeiro-ministro, David Cameron, sob pressão dentro e fora de seu país para responder ao drama.
"Hoje posso anunciar que forneceremos outros 100 milhões de libras (153 milhões de dólares), elevando nossa contribuição total a mais de um bilhão de libras, ou seja, a maior resposta já dada pelo Reino Unido a uma crise humanitária", afirmou Cameron em Madri.
A maior parte desta contribuição adicional, 60 milhões de libras, estará destinada "a ajudar os sírios que ainda estão na Síria" e "o resto irá para países vizinhos", como Turquia, Jordânia e Líbano, explicou ao término de uma reunião com seu colega espanhol, Mariano Rajoy.
Mais de quatro milhões de sírios fugiram da guerra desde sua explosão, em 2011, e a grande maioria se refugiou nestes três países, enquanto outros se lançam em perigosas viagens tentando entrar na União Europeia.
Poucas horas antes, no vizinho Portugal Cameron havia anunciado que abrirá seu país a muitos outros refugiados sírios, embora não tenha fornecido números até o momento. "Diante da magnitude da crise e do sofrimento das pessoas, hoje posso anunciar que faremos mais, fornecendo reassentamento para milhares de refugiados sírios", declarou aos jornalistas em Lisboa.
Londres aceitou 216 refugiados sírios no último ano e 5.000 sírios receberam asilo político no país desde 2011, muito menos que o concedido por França, Alemanha ou Suécia. "Prosseguiremos com nossa política de trazê-los diretamente dos campos de refugiados", acrescentou, em referência às instalações das Nações Unidas na fronteira síria. "Isso lhes fornecerá uma rota mais direta e segura até o Reino Unido, em vez da perigosa viagem que tragicamente tomou tantas vidas".
Pressão interna e externa
As ONGs aplaudiram este anúncio, convocando Londres a aumentar significativamente suas vagas de acolhida. A Oxfam afirmou que aceitar 10.000 refugiados sírios colocaria o país no mesmo nível que outras nações europeias, enquanto o Refugee Council britânico considerava que a Grã-Bretanha deveria acolher dezenas de milhares de sírios.
"À medida que a opinião pública britânica começou a sentir o terrível sofrimento dos que fogem da pobreza, da perseguição e da violência, vimos mais sinais das tradicionais humanidade e generosidade britânicas", comemorou o diretor da Oxfam no Reino Unido, Mark Goldring. "Para mudar realmente as vidas dos refugiados é preciso agora focar a atenção em garantir que as pessoas sejam transferidas sem demora", acrescentou Mike Adamson, da Cruz Vermelha britânica.
Cameron havia enfrentado nos últimos dias uma crescente pressão interna e externa para que aceitasse uma maior porcentagem de refugiados, especialmente após a publicação no início da semana das impactantes imagens de um menino sírio de três anos afogado em uma praia turca.
Londres havia rejeitado o sistema de quotas proposto pela Comissão Europeia para distribuir os solicitantes de asilo entre os países membros de forma proporcional a sua população e Produto Interno Bruto. Isso levou o comissário de Direitos Humanos do conselho da Europa, Nils Muiznieks, a se declarar seriamente preocupado. "O Reino Unido está fazendo muito menos que outros países europeus", lamentou.
Também dentro do país, vários editoriais lembraram o período em que o Reino Unido acolheu um grande número de refugiados antes e depois da Segunda Guerra Mundial e durante as guerras dos Bálcãs na década de 1990.
Uma petição ao Parlamento britânico que convocava a aceitar um maior número de refugiados reuniu mais de 360.000 assinaturas, enquanto os ativistas do Avaaz afirmavam que 2.000 britânicos se ofereceram como voluntários para acolher famílias refugiadas.