Agência France-Presse
postado em 08/09/2015 11:36
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou na segunda-feira (8/9) à noite o fechamento de um novo trecho da fronteira com a Colômbia e o envio de mais 3.000 militares, depois de anunciar que aceita a mediação do Brasil e da Argentina na crise. Em um discurso exibido na televisão, Maduro afirmou que o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, deve aceitar um diálogo sobre a situação fronteiriça.Mas depois de declarar que está disposto a "apertar a mão" do colega colombiano, anunciou o aumento do número de militares venezuelanos na fronteira, com mais 3.000 oficiais em três municípios do estado de Zulia, e o fechamento da importante passagem de Paraguachón, no extremo norte da fronteira entre os dois países. "Decidi proceder o fechamento da passagem fronteiriça de Paraguachón, no estado Zulia", disse, ao mesmo tempo que declarou estado de exceção nos municípios de Mara, Guajira e Almirante Padilla.
No estado de Táchira na Venezuela, também na fronteira com a Colômbia, já estão presentes 5.000 desde meados de agosto, quando Maduro ordenou o fechamento unilateral da fronteira. Caracas justificou a decisão do primeiro fechamento ao alegar um ataque a militares venezuelanos durante uma operação de combate ao contrabando, que Maduro atribuiu a "paramilitares colombianos".
O conflito aumentou quando os dois governos convocaram para consultas seus embaixadores, em meio a acusações de violações dos direitos humanos das pessoas afetadas. Em meio à troca de acusações, Santos e Maduro afirmaram de maneira separada que estão abertos à mediação dos vizinhos sul-americanos.
O colombiano revelou que conversou na semana passada com o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, que se ofereceu para mediar o diálogo. Maduro afirmou na segunda-feira que aceita a mediação dos governos do Brasil e da Argentina. "Me propuseram, em nome da presidente Dilma Rousseff e da presidente Cristina Fernández, uma reunião em Manaus ou Buenos Aires entre você e eu", disse, em uma mensagem a Santos.
Durante a crise, o presidente venezuelano chegou a mencionar um plano colombiano para o seu assassinato. Mas analistas políticos apontam que a tensão com o país vizinho tem como origem a baixa popularidade, a crise econômica e as pesquisas desfavoráveis ao governo de Nicolás Maduro ante as eleições legislativas de dezembro.
De acordo com o governo de Bogotá, até segunda-feira a crise na fronteira afetou quase 14.000 colombianos, incluindo 1.443 deportados da Venezuela, enquanto os demais fugiram pelo temor de uma expulsão sem suas famílias ou pertences.
Colômbia e Venezuela compartilham uma fronteira porosa de 2.219 km, com denúncias de uma intensa atividade de grupos criminosos que lucram com o contrabando de combustível e outros produtos altamente subsidiados pelo governo de Caracas.
Venezuela nega denúncias
O Defensor do Povo da Venezuela, Tarek William Saab, negou nesta terça--feira em Genebra as acusações organizações humanitárias de que o país expulsou refugiados.
Ele admitiu que "imigrantes ilegais foram deportados", mas disse que o "tema dos direitos humanos é utilizado para mentir: há narcotráfico, paramilitarismo e grupos organizados na Venezuela que se dedicam ao contrabando de gasolina e de produtos de extração, que são comprados a preço baixo na Venezuela pelos subsídios do governo e depois são vendidos a preços elevados na Colômbia", disse.
"Pedimos que documentem os casos, mas lançam cifras genéricas para prejudicar a Venezuela. Não há um só caso de refugiado deportado, é preciso falar a verdade, e sobre mulheres violentadas tampouco há provas", insistiu.