Berlim, Alemanha - A Alemanha se comprometeu nesta terça-feira (8/9) a receber a cada ano meio milhão de refugiados para aliviar a crise dos migrantes na Europa, em um momento no qual uma nova onda de pessoas que buscam desesperadamente escapar da guerra chegava às ilhas gregas.
Para ilustrar a magnitude do desafio que os governos enfrentam, o presidente da União Europeia, Donald Tusk, advertiu que o "êxodo" poderia durar anos.
"A onda de migração não é um incidente isolado, mas o princípio de um êxodo real, o que significa que teremos que lidar com este problema nos próximos anos", assegurou Tusk.
"Temos que nos concentrar no combate contra o tráfico de seres humanos e os traficantes", aos quais Tusk classificou de "assassinos". "Podemos falar de assassinos porque são diretamente responsáveis pela morte de milhares de pessoas", afirma.
Desde Genebra, o Representante Especial para a Migração e o Desenvolvimento da ONU, Peter Sutherland, pediu "uma resposta europeia como parte de uma resposta global" e sugeriu organizar uma conferência internacional sobre a questão.
O chanceler austríaco também apoiou a ideia de impulsionar uma conferência internacional.
"Durante a crise financeira de 2008 fizemos tudo o que pudemos para impedir o colapso dos bancos e do sistema financeiro. Agora devemos demonstrar os mesmo esforços para que o direito de asilo seja garantido", afirmou Werner Faymann.
Na frente política, os países da UE estão divididos sobre como responder à crise.
A Alemanha, a principal economia do continente, se comprometeu a receber 500.000 refugiados por ano a médio prazo e a chanceler Angela Merkel previu que a chegada destes migrante mudará profundamente o país.
A chanceler alemã também advertiu nesta terça-feira que a proposta do presidente da Comissão Europeia para acolher 120.000 refugiados nos países do bloco é só "um primeiro passo" porque o número de refugiados é muito variável.
Segundo o plano de Jean-Claude Juncker, que será apresentado na quarta-feira e ao qual a AFP teve acesso, a Alemanha teria que acolher 31.000 pessoas, a França 24.000 e a Espanha quase 15.000.
Esta divisão entre os 28 países do bloco ficou parada pela votação na Hungria de um projeto de lei para acelerar a construção de um muro na fronteira com a Sérvia, para impedir a chegada de migrantes.
;O governo não se importa;
As cenas de caos em toda a Europa colocaram em destaque as dificuldades dos governos para controlar a chegada de milhares de pessoas que fogem da guerra e da miséria do Oriente Médio e a África.
Na Grécia, o ministro de Migrações admitiu que a ilha de Lesbos está "a ponto de explodir" pela chegada de milhares de pessoas.
As autoridades decidiram ampliar suas capacidade para atender os 30.000 refugiados que, segundo a ONU, se encontram repartidos em várias ilhas do mar Egeu, 20.000 deles só em Lesbos.
Nas últimas horas, a tensão tem aumentado nesta ilha, onde guarda-costas e policiais armados com bastões tentavam controlar no porto cerca de 2.500 pessoas que queriam embarcar em um ferry com destino a Atenas.
"Foram três dias horríveis (...) Não há quartos, não há hotéis, não há banheiros, não há camas, não há nada", explica Husam Hamzat, um engenheiro sírio de 27 anos procedente de Damasco que nesta terça-feira conseguiu, após horas de espera, os papéis para sair da ilha.
"Estou aqui há oito, nove dias, nem sei", afirma Aleddin, um estudante de engenharia bloqueado em Lesbos e que tenta chegar à Alemanha para encontrar-se com seu irmão. "Alguns estão aqui há 14 ou 15 dias, o governo (grego) não se importa", assegura.
América Latina oferece asilo
Diante do desespero dos migrantes, países de todo o mundo, vários deles latino-americanos, se ofereceram para recebê-los. A Venezuela anunciou que acolheria 20.000 pessoas, o mesmo número que o Reino Unido se propôs para cinco anos.
A presidente brasileira, Dilma Rousseff, disse que os receberia "com os braços abertos", enquanto sua homóloga chilena, Michelle Bachelet, informou que seu governo estava trabalhando para receber "um grande número" de pessoas.
Na Líbia, os guarda-costas resgataram 120 pessoas que viajavam em um bote inflável.
Segundo o último relatório da Agência da ONU para os Refugiados (Acnur) publicado nesta terça-feira, mais de 380.000 migrantes e refugiados chegaram na Europa pelo Mediterrâneo desde janeiro de 2015 e 2.850 morreram na travessia ou foram considerados desaparecidos.