Agência France-Presse
postado em 08/09/2015 20:48
Ao menos 31 pessoas morreram nesta terça-feira em ataques aéreos da coalizão árabe sob comando saudita contra o Iêmen, especialmente na capital, Sanaa, nas mãos dos rebeldes xiitas huthis - relataram fontes médicas. Na parte da manhã, potentes explosões sacudiram o centro de Sanaa, de acordo com jornalistas da AFP. Ao menos sete "civis" e três guarda-costas do oficial rebelde Khaled Anduli morreram, informaram fontes médicas.Controlado pelos rebeldes, o site sabanews.net fala em 15 mortos e 77 feridos. Faz um ano que os rebeldes tomaram Sanaa. Várias testemunhas afirmaram que a Academia de Polícia foi um dos alvos dos bombardeios na capital. Desde que um míssil matou 60 soldados da coalizão árabe-sunita na província de Marib, ao leste de Sanaa, na sexta-feira passada, os ataques aéreos contra as posições rebeldes na região da capital não dão trégua.
Além da Academia de Polícia, os ataques desta terça-feira atingiram o quartel-general do Serviço de Segurança Central, afirmaram testemunhas. Durante a noite, 21 rebeldes morreram em uma série de ataques contra a cidade de Bayhan.
A Arábia Saudita e seus aliados árabes iniciaram uma operação no Iêmen para impedir que os huthis assumam o controle de todo o país, depois da ofensiva lançada pelo grupo em 2014. Com o apoio da coalizão, as forças governamentais retomaram desde julho o controle de cinco províncias do sul. Agora, concentram suas tropas na província de Marib para tentar reconquistar Sanaa, mais ao oeste.
Nova fase
De acordo com especialistas consultados pela AFP, a guerra do Iêmen entra em uma nova fase, potencialmente decisiva, com o envio de forças para o terreno por parte da coalizão árabe para lutar contra os rebeldes xiitas que controlam a capital e o norte do país.
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Cinco meses depois do início dos bombardeios da coalizão árabe, "o Iêmen está entrando em uma nova etapa mais letal da violência no norte", avaliou a analista April Longley Alley, do International Crisis Group. "Os dois lados estão se preparando para um choque maior no norte e, especialmente, em Sanaa", acrescentou Alley. Desde ontem à noite, os aviões da coalizão bombardeiam Sanaa como parte dessa ofensiva.
O ataque à base em Marib foi um "ponto de inflexão", disse o professor convidado no King;s College de Londres e consultor Andreas Krieg, que trabalha com as forças do Catar.
Agora, a coalizão "prepara um maior envio de tropas ao terreno" para apoiar as forças locais, que foram treinadas e equipadas nos últimos seis meses, acrescentou o especialista.
Hoje, o Catar confirmou que 1.000 soldados estão na fronteira com a Arábia Saudita "prontos para combater". Fontes militares iemenitas informaram que cerca de 1.000 soldados sauditas também estão no terreno. Krieg estima que haja pouco mais de 5.000 homens da coalizão no terreno, mas que não se sabe o número exato. Segundo ele, há muitas forças especiais mobilizadas na área.
Para o analista, a coalizão avançou no terreno até agora, porque operou em um território onde não havia resistência. "Sanaa e as províncias do norte vão ser territórios muitos hostis, portanto, é muito difícil prever como serão as operações a partir de agora", completou.
Dias difíceis para a coalizão
April Alley antecipa que os aliados terão dias difíceis pela frente. "A batalha pelo norte do Iêmen se apresenta como longa e sangrenta, o que vai piorar uma crise humanitária que já é crítica", acrescentou.
Segundo as Nações Unidas, 80% da empobrecida população do Iêmen precisa de ajuda. O conflito nesse país pobre da península arábica já deixou quase 4.400 mortos e 1,3 milhão de deslocados desde março, de acordo com a ONU.
"Uma vitória total sobre os huthis no norte vai ser difícil, mas não impossível", considerou Alley, lembrando que é necessário um acordo entre os rebeldes e o governo, para que os insurgentes possam entrar no sistema político. Para o especialista em geopolítica árabe Mathieu Guidere, da Universidade de Toulouse, uma solução negociada parece improvável. "Uma negociação política vai-se implementar apenas depois de uma vitória militar de um dos dois lados", comentou.