Berlim, Alemanha - Rebelião em seu próprio partido e problemas logísticos mal antecipados: Angela Merkel virou alvo de críticas nesta segunda-feira depois da reviravolta em sua gestão da atual crise dos refugiados, que viram a mão antes estendida a eles se fechar brutalmente.
"O governo age sem pensar, tudo isso mostra o quanto não sabe qual caminho tomar", considerou nesta segunda-feira um dos líderes do partido opositor dos Verdes alemães, Anbton Hofreiter.
Particularmente embaraçoso para a chanceler, no exterior, o primeiro-ministro húngaro, que adotou uma linha muito dura frente aos migrantes e em conflito aberto com Berlim, foi o primeiro a saudar a reviravolta: ele falou de uma reintrodução "necessária" dos controles nas fronteiras.
Menos diplomático, o ex-ministro francês Bruno Le Maire, membro do partido de direita de Nicolas Sarkozy, acusou Angela Merkel de cometer "um duplo erro", primeiro "decidindo sozinha" e depois "deixando a entender que a UE poderia acomodar todos os refugiados da Síria e de outros lugares".
"Nós podemos ver para onde isso nos levará", disse.
Tradicionalmente rápida a ajustar suas escolhas com base nas tendências de sua opinião pública, esta não é primeira vez que Angela Merkel muda o rumo de sua política.
Em 2011, depois do desastre de Fukushima, ela se rendeu aos ambientalistas ao optar pelo abandono da energia nuclear, que promovia pouco antes.
Racha entre aliados
Mas sobre a questão dos refugiados, "nunca antes a chanceler havia mudado radicalmente sua política", constatou o jornal Süddeutsche Zeitung.
Merkel "deve reconhecer que julgou mal a situação", analisou a publicação.
A decisão de reintroduzir controles nas fronteiras, a fim de conter o fluxo de dezenas de milhares de refugiados que chegam dos Bálcãs através da Hungria e da Áustria, foi feita em um contexto político interno explosivo para a chanceler.
A ala mais conservadora da sua família política, a CSU, ramo bávaro da CDU, não parou nos últimos dias de criticar a política compassiva do governo.
"Medidas eficazes são agora necessárias para parar o fluxo", uma vez que os limites "foram atingidos", trovejou durante o fim de semana o ministro dos Transportes Alexander Dobrindt, membro da CSU e, portanto, particularmente preocupado: a maioria dos refugiados entra na Alemanha pela Baviera.
Mesmo dentro da CDU, sinais de dissensão apareceram. Um dos quadros do partido, Jens Spahn, declarou que a política de portas abertas "encoraja" os refugiados "a pegar a estrada para a Alemanha".
A chanceler também precisou lidar durante todo o fim de semana com a desaprovação dos líderes dos governos regionais alemães.
Todos lamentaram o despreparo da política de abertura aos refugiados, que levou ao esgotamento das estruturas de acolhimento.
O que Merkel deseja?
A situação do fim de semana em Munique foi o último sinal de alerta para Berlim.
Pelo segundo fim de semana consecutivo, a cidade foi confrontada com a chegada de cerca de 20.000 demandantes de asilo, alguns dos quais tiveram que dormir ao relento por falta de abrigo.
Em última análise, a opinião pública alemã não sabe mais para onde se virar. O que realmente deseja Angela Merkel sobre os refugiados?
No início de julho, transmitia a imagem de uma chanceler fria e inflexível ao explicar durante um debate público a uma adolescente palestina em lágrimas que a Alemanha não poderia acomodar toda a miséria do mundo.
No início de setembro, era só sorrisos ao tirar fotos com sírios em abrigos para finalmente voltar a uma linha firme.
"Nessas condições, inevitavelmente surge a questão de saber se a política de refugiados alemã foi concebida com o desejo de alcançar um objetivo claro", escreveu o jornal conservador Die Welt.