Damasco, Síria - O presidente sírio, Bashar al-Assad, acusou nesta quarta-feira (16/9) os países ocidentais de terem uma dupla atitude em relação à crise migratória ao chorar pelos refugiados sírios ao mesmo tempo em que alimentam a guerra que os expulsa para o exílio.
"É como se o Ocidente chorasse com um olho pelos refugiados e com o segundo mirasse neles com uma arma", declarou o chefe de Estado sírio, durante uma entrevista à imprensa russa, divulgada nesta quarta-feira.
"O Ocidente (...) apoia os terroristas desde o início da crise e (aponta a responsabilidade do que acontece) para o regime ou o presidente sírio", ressaltou em sua primeira reação à tragédia dos migrantes.
O regime de Damasco chama de "terroristas" todo os seus opositores: dissidentes políticos que escolheram a luta pacífica, rebeldes que pegaram em armas e os jihadistas, incluindo os do grupo Estado Islâmico (EI).
"Se a Europa está tão concentrada no futuro dos refugiados, deveria parar de apoiar o terrorismo", insistiu Assad.
Muitos países europeus apoiam a oposição "moderada" a Assad, mas que lutam contra os jihadistas do EI.
Mais de 500 mil migrantes atravessaram as fronteiras da União Europeia entre janeiro e agosto deste ano, contra 280 mil em 2014, segundo a agência europeia Frontex.
Ataques franceses
A guerra neste país começou com manifestações pacíficas em 2011. Reprimidas violentamente pelo regime de Assad, logo degeneraram para uma rebelião armada e uma guerra civil. Mais de 240.000 pessoas morreram em quatro anos e meio.
A Síria, país rico de uma civilização milenar, também tem sofrido com o saque arqueológico em escala industrial, denunciou nesta quarta-feira a Unesco, ressaltando a necessidade de lutar contra o tráfico de objetos de arte que servem para financiar o jihadismo.
Paralelamente às destruições de caráter ideológico dos sítios antigos, o EI trava um importante tráfico de objetos antigos, escavados sem cerimônia neste país.
Na luta contra o EI na Síria, a França realizará seus primeiros bombardeios contra a organização jihadista nas próximas semanas, de acordo com o ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian.
No terreno, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) indicou que "violentos combates prosseguem na região de Aleppo, na periferia de Marea e em cinco vilarejos limítrofes controlados desde o início da semana pelo EI".
A oposição no exílio afirmou que o EI atacou em duas ocasiões a cidade de Marea com armas químicas.
Em Homs, terceira maior cidade do país, 13 pessoas ficaram feridas em um atentado com carro-bomba em um bairro majoritariamente alauíta, comunidade à qual pertence o presidente Assad.
;Resultados modestos;
Na frente diplomática, o emissário da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, é aguardado na quinta-feira em Damasco para discutir um documento de 60 páginas apresentado como uma "compilação de ideias" feita pelo emissário a partir de discussões com interlocutores da oposição, do regime e da sociedade civil.
Por sua vez, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, viajará na próxima semana à Rússia para discutir com o presidente Vladimir Putin "sobre a mobilização de forças militares russas na Síria" e "expressar as ameças que pesam sobre Israel".
O Pentágono e fontes americanas relataram a implantação de artilharia e tanques russos em um aeroporto no norte da Síria e da presença de dezenas de tropas de infantaria da Marinha.
A Rússia considerou nesta quarta-feira como "muito modestos" os resultados da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos contra o EI, dizendo que os ataques aéreos só aumentaram o número de simpatizantes do grupo jihadista.
Ela também critica o fato de que a coalizão apoia "grupos anti-governamentais que lutam contra o exército sírio, que é a principal força que combate o EI".
Washington, por sua vez, reconheceu nesta quarta-feira que apenas um "pequeno número" de 54 combatentes treinados pelos Estados Unidos e que havia sido atacado por um grupo ligado à Al-Qaeda estão agora combatendo no terreno.
Os Estados Unidos começaram na primavera passada a treinar e equipar rebeldes sírios cuidadosamente selecionados para que lutem contra o grupo Estado Islâmico na Síria. Mas o programa, para o qual o Congresso alocou US$ 500 milhões, não conseguiu decolar, com apenas 54 rebeldes treinados até a data para uma meta de 5.000 por ano.