Santiago, Chile - O Chile viveu uma noite de pesadelo na quarta-feira, depois que um potente terremoto de 8,3 graus atingiu o centro e o norte do país e deixou 11 mortos, sendo seguido por dezenas de tremores secundários e por um tsunami que devastou parte da costa.
"Vivemos uma noite de pesadelo, o movimento foi muito e foi longo, muito longo e prosseguiu com os tremores secundários", disse à Agência France Presse (AFP) Maria Ramírez, enquanto varria a porta de sua casa, localizada em frente ao cemitério de Illapel, um povoado de 31.000 habitantes e um dos locais mais atingidos.
[SAIBAMAIS]Em um último balanço, o ministro do Interior e Segurança, Jorge Burgos, disse que duas novas vítimas fatais se somaram nas últimas horas para elevar o saldo preliminar a um total de 10 mortos.
O terremoto foi sentido às 19h54 (mesmo horário de Brasília) de quarta-feira (16/9) e teve seu epicentro 42 km a oeste da pequena localidade de Canela Baja, no norte do Chile. O tremor ativou imediatamente um alerta de tsunami em toda a costa chilena e em vários países com costa no Pacífico, que foi cancelado horas depois.
Ondas de quase 4,5 metros atingiram várias comunidades da região de Coquimbo. Uma das localidades mais afetadas foi o povoado pesqueiro de Tongoy, de quase 4.400 habitantes, onde imagens da televisão local mostravam a devastação de toda a sua costa. Não havia, no entanto, informações sobre vítimas fatais neste balneário.
Várias lojas que se preparavam para receber um grande número de turistas devido ao esperado feriado nacional foram arrasadas pelo avanço das ondas. "A cidade está destruída. Aqui foi terrível", narrou um vizinho de Tongoy à TVN. O porto da cidade de Coquimbo também sofreu grandes danos, de acordo com as autoridades.
No porto de Valparaíso, 120 km a oeste de Santiago, as ondas alcançaram quase dois metros, de acordo com um relatório da Marinha chilena. Na localidade de Con Con, a água arrasou vários restaurantes próximos à praia.
Mais potente
"Trata-se de um terremoto de grande magnitude, classificado como o terremoto mais potente que o mundo teve em 2015, mas os chilenos estão acostumados", disse o ministro Burgos. O tremor também foi sentido na Argentina, especialmente na zona fronteiriça com o Chile, mas também em sua capital Buenos Aires, mais de 1.500 km a leste do epicentro.
Em Illapel, as primeiras horas da manhã deixaram à vista as marcas da tragédia, com a destruição de casas construídas em sua maioria com materiais leves, enquanto o cemitério local era um caos com dezenas de cruzes, vasos e túmulos destruídos, constatou a AFP.
A presidente Michelle Bachelet advertiu, no entanto, antes de viajar à zona de desastre que "ainda não temos uma magnitude real dos danos causados".
O ministro da Fazenda, Rodrigo Valdés, concordou que ainda era cedo para avaliar os danos econômicos e comprometeu a realocação de recursos para enfrentar a tragédia. "Temos muitos gastos diferentes, será preciso ver prioridades neste caso. Acredito que é um momento no qual a palavra priorizar é mais fácil de entender. Há muitos projetos hoje em andamento e será preciso gradualizar alguns para dar espaço à necessidade de ajuda", afirmou.
Bachelet também destacou os "padrões de construção" deste país, um dos mais sísmicos do mundo, que "permitiram que a infraestrutura respondesse adequadamente". "Todos disseram que este é o sexto terremoto na história do Chile (...) mas diante disso até agora a resposta foi boa", destacou a presidente, que decretou zona de catástrofe para a província de Choapa (norte), onde se localizou o epicentro do tremor.
Isso implica que esta região fica sob comando militar e o Estado entregará maiores recursos à localidade para atender a emergência.
Retirada
O alerta de tsunami motivou a transferência a setores altos de um milhão de pessoas, sem maiores complicações em todo o território nacional. "Quase um milhão de chilenos e chilenas foram retirados ordenadamente", disse Burgos.
As aulas foram suspensas nas localidades costeiras da região centro-norte, enquanto dezenas de tremores secundários, alguns deles de grande intensidade, continuavam sendo registrados nesta quinta-feira e mantinham a população em alerta. A Codelco, a maior produtora de cobre do mundo, com quase 11% do total mundial, informou que nem seus trabalhadores, nem suas operações sofreram danos.
Em 2010, a zona central do Chile foi abalada por um terremoto de 8,8 graus e por um posterior tsunami, que deixou mais de 500 mortos. Em abril do ano passado, outro terremoto, de 8,2 graus, abalou a cidade de Iquique, deixando seis mortos.