Agência France-Presse
postado em 17/09/2015 14:32
Damasco, Síria - O enviado da ONU para a Síria iniciou nesta quinta-feira (17/9) com o regime sírio negociações sobre sua iniciativa de paz para o país, onde a Rússia está reforçando sua presença.O diplomata Steffan de Mistura chegou a Damasco num momento em que o Ocidente, sobrecarregado com a chegada de refugiados, busca uma saída política ao conflito sírio e pode deixar de exigir que o presidente Bashar al-Assad abandone o cargo. "Ainda temos reuniões, não posso fazer nenhum comentário", declarou De Mistura à imprensa após um encontro com o ministro das Relações Exteriores sírio, Walid Mualem.
Durante esta reunião, o ministro sírio afirmou que "a luta contra o terrorismo" é "a prioridade e o prelúdio a uma solução política na Síria", segundo a agência oficial Sana.Assad e seu aliado russo Vladimir Putin repetem cada vez mais esta mensagem, acusando o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) de provocar a atual crise migratória. "Com a crise dos migrantes são ouvidas vozes europeias que defendem uma cooperação com Assad e Putin. A ideia de uma estabilidade a qualquer preço está claramente ganhando espaço", comprova Karim Bitar, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris.
Mualem declarou a Mistura que Damasco esperava mais detalhes sobre a iniciativa da ONU antes de "tomar as decisões oportunas". Segundo um funcionário sírio, o adjunto de Mistura, Ramzi Ezzedin Ramzi, viajou a Damasco em meados de agosto para entregar um documento de 60 páginas, elaborado pelo enviado da ONU após uma série de encontros com a oposição, o regime e a sociedade civil.
Rússia reforça sua presença
Mistura propôs em julho organizar conversas temáticas entre sírios para abordar questões de segurança e aspectos políticos e militares.
O jornal sírio Al-Watan, próximo ao poder, afirma que persistem divergências entre Damasco e Moscou, por um lado, e a ONU, pelo outro, em relação à forma de solucionar a crise. Os primeiros consideram, segundo o jornal, que "não há solução política sem vencer o terrorismo", um termo com o qual Damasco designa todos os opositores. A ONU defende, por sua vez, "as posições da coalizão opositora, de Estados Unidos, Turquia e Arábia Saudita, que querem que a solução política preceda a luta contra o terrorismo".
A chegada de Mistura coincide com o que parece ser o início de uma nova fase no conflito sírio, que deixou 240.000 mortos em quatro anos e meio. A Rússia, que havia se mostrado discreta no país, reforça sua presença militar ao lado do regime de Assad.
O Kremlin propôs inclusive a Washington iniciar negociações entre militares das duas potências para, entre outras coisas, evitar qualquer incidente entre soldados russos e as forças americanas que integram a coalizão antijihadista na Síria e no Iraque, revelou na quarta-feira o secretário de Estado, John Kerry.
A Rússia move suas fichas enquanto no Ocidente há cada vez mais gente que "pensa que Assad é um mal menor e que se declara abertamente a favor de uma aproximação com ele para combater o EI", afirma o especialista Karim Bitar.
O EI abordou nesta quinta-feira (17/9) a crise dos migrantes em vários vídeos divulgados na internet. Os jihadistas censuraram a migração maciça em direção à Europa e convocaram os refugiados a buscar refúgio no califado que autoproclamaram na Síria e no Iraque. Um dos vídeos, de 21 minutos de duração, comenta imagens de refugiados que tentam chegar à Europa: "viverão submetidos a leis humilhantes em vez de fugir à terra dos muçulmanos para viver de forma digna e segura".