Agência France-Presse
postado em 18/09/2015 12:05
Mais de dois milhões de muçulmanos começavam a se reunir para sua peregrinação anual a Meca, na Arábia Saudita, em um contexto de tensão no Oriente Médio e de luto após a morte de mais de 100 pessoas pelo desabamento de uma grua.[SAIBAMAIS]Apesar disso, os sentimentos de fervor e exaltação imperam entre os fiéis, que partem de todo o mundo para acompanhar o ritual do hajj, que se inicia oficialmente na terça-feira (22/9). "Olhe a quantidade de gente aqui. Acha que elas têm medo? Pelo contrário", exclama Amin al Rahmanm, procedente de Bangladesh.
Nenhum drama importante havia ocorrido desde 2006, mas o hajj deste ano está marcado, mesmo antes de seu início, pela queda de uma gigantesca grua na Grande Mesquita de Meca, que em 11 de setembro provocou a morte de ao menos 107 pessoas e feriu cerca de 400.
O acidente, provocado por fortes ventos e por negligências imputadas à empresa de construção BinLaden Group, não afetará a peregrinação, que é realizada todos os anos em meio a uma enorme obra de construção para ampliar a Grande Mesquita. Mas os riscos de acidente seguem existindo: na quinta-feira mil peregrinos asiáticos foram evacuados de um hotel após um incêndio noturno em um quarto.
Está previsto que cerca de 1,4 milhão de fiéis procedentes do exterior participem do hajj, já que todo muçulmano que tenha os meios deve fazer esta peregrinação ao menos uma vez em sua vida. A eles se somarão centenas de milhares de sauditas e de estrangeiros residentes no país.
Medidas de segurança
Esta é a primeira peregrinação que é realizada sob o reino do rei Salman, que chegou ao trono em janeiro. O soberano saudita - que tem o título de servidor das duas mesquitas santas, Meca e Medina - ordenou sanções contra o BinLaden Group, encarregado do projeto de ampliação em Meca, por sua responsabilidade no acidente da grua. Esta sociedade pertence à família do fundador da Al-Qaeda, Osama Bin Laden.
As medidas de segurança em torno do hajj serão importantes. O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou nos últimos meses vários ataques contra mesquitas xiitas em Arábia Saudita, Kuwait e Iêmen.
O grupo islamita sunita considera os xiitas hereges e a família saudita dos Al-Saud, por muito tempo aliada dos Estados Unidos, como vassalos do Ocidente. Para Andrew Hammond, do Conselho Europeu de Relações Estrangeiras, "o risco de atentado contra os xiitas e o Estado saudita não pode ser descartado". Hammond estima que "o EI pode utilizar o hajj para recrutar e divulgar sua mensagem".
As tensões entre sunitas e xiitas no Oriente Médio seguem se exacerbando com a rivalidade entre o Irã e a Arábia Saudita, e com o conflito no Iêmen, país vizinho deste, onde o exército saudita se mobilizou para evitar o avanço dos rebeldes xiitas huthis, apoiados por Teerã.
Outra ameaça que paira sobre a peregrinação é o risco de epidemia do Coronavírus MERS, que tem um de seus principais focos na Arábia Saudita. Alguns casos foram registrados em Medina, segunda cidade santa do Islã, que forma parte do circuito dos peregrinos. O ministro saudita da Saúde, Khaled al-Falih, indicou, no entanto, que não havia sido registrado nenhum caso entre os peregrinos. Um total de 25.000 agentes médicos suplementares foram mobilizados.
No total, 524 pessoas morreram - 19 delas na última semana de agosto - de 1.240 casos de infectados na Arábia Saudita, onde a doença apareceu em 2012. A Arábia Saudita proibiu a morte de dromedários, vetores da doença, durante o hajj. Segundo a tradição, os peregrinos sacrificam um animal ao fim do ritual.