Agência France-Presse
postado em 19/09/2015 09:50
Harmica, Croácia - Milhares de migrantes bloqueados na Croácia tentavam neste sábado encontrar uma saída para o norte da Europa, enquanto os países dos Bálcãs, cada vez mais divididos ante o êxodo incessante, repassam uns aos outros os refugiados.Depois de fechar a fronteira com a Sérvia, a Hungria anunciou a conclusão de uma cerca de alambrado na fronteira com a Croácia, país que se tornou uma nova via de exílio para os migrantes.
A Croácia, que anunciou na sexta-feira ter chegado a um ponto de "saturação" com a entrada de mais de 17.000 pessoas em três dias, pressionou a Hungria com o envio a sua fronteira, de ônibus e trem, milhares de migrantes. Na sexta-feira chegaram 4.400.
O primeiro-ministro croata Zoran Milanovic advertiu que seu país, que não integra o espaço Schengen, vai continuar transportando migrantes para a fronteira com a Hungria. Budapeste acusa o governo vizinho de estimular os migrantes a atravessar "ilegalmente" a fronteira.
Os migrantes sírios, afegãos, iraquianos ou eritreus, que chegam à região procedentes da Grécia e da Turquia, com o objetivo de seguir viagem para a Alemanha e outros países do oeste da Europa, também tentam entrar na vizinha Eslovênia, país que faz parte do espaço Schengen.
De acordo com o canal croata HRT TV, quase mil refugiados passaram a noite ao relento no posto fronteiriço de Bregana, entre a Croácia e a Eslovênia.
No posto de Harmica, a 20 km da capital croata Zagreb, dezenas de migrantes se reuniram neste sábado na ponte que divide os dois países para exigir que a polícia eslovena permita a passagem.
A Eslovênia está disposta a receber até 10.000 refugiados se receber tal pedido, afirmou a embaixadora do país na Alemanha, Marta Kos Marko, em uma entrevista à imprensa germânica.
A declaração foi feita no momento em que a Eslovênia, país dois milhões de habitantes entre Croácia, Hungria, Áustria e Itália, enfrenta um fluxo intenso de imigrantes.
Ironia da História
Mais ao leste, 1.200 refugiados atravessaram a fronteira entre a Croácia e a Hungria na manhã deste sábado, a maioria de ônibus.
A Hungria concluiu neste sábado a instalação de alambrado em 41 km da fronteira com a Croácia, pois os demais 330 quilômetros de fronteira entre os dois países estão delimitados pelo rio Drava, muito difícil de atravessar.
Budapeste, que defende a linha dura contra os migrantes, já instalou uma cerca similar nos 175 quilômetros da fronteira com a Sérvia e agora pretende tomar a mesma medida em parte da fronteira com a Romênia.
A ministra croata das Relações Exteriores, Vesna Pusic, chamou de "ironia da História" a instalação de cercas pela Hungria na fronteira com seu país ao recordar, em uma entrevista a uma emissora de rádio búlgara, que "há 26 anos a Hungria estava do outro lado da "cortina de ferro".
A polícia húngara informou que até sexta-feira à meia-noite 209.963 refugiados haviam atravessado a fronteira do país, sendo mais de 200.000 a partir da Sérvia e quase 8.000 de Croácia.
O fluxo migratório incessante aumenta a pressão sobre a UE, que convocou uma reunião de cúpula de chefes de Estado e Governo para quarta-feira em Bruxelas, com o objetivo de tentar superar as profundas divisões.
Mais ao sul, no Mar Egeu, uma menina síria de cinco anos foi encontrada morta neste sábado e outros migrantes são considerados desaparecidos após o naufrágio de uma embarcação que tentava chegar à Grécia a partir da Turquia.
Na sexta-feira, o corpo de outra menina de quatro anos foi encontrado em uma praia da região de Cesme, leste da Turquia, depois de um naufrágio similar.
Diante da multiplicação de naufrágios, muitos migrantes decidiram tentar entrar na Grécia fronteira terrestre, mas estão bloqueados na cidade turca de Edirne (noroeste), já que as autoridades turcas proíbem o acesso à fronteira.
Neste sábado, pelo menos 750 migrantes foram socorridas neste sábado em águas internacionais perto das costas líbias por barcos da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Em vídeos enviados à AFP pela MSF, centenas de pessoas se emocionam com o resgate.
"Há várias nacionalidades. Felizmente, todos estão em boas condições de saúde", disse o porta-voz da MSF, Sami al-Subaihi.