Agência France-Presse
postado em 24/09/2015 16:11
O crescente apoio da Rússia à Síria preocupa os países ocidentais que não conseguem chegar a um acordo sobre uma estratégia diplomática comum, especialmente no que diz respeito ao presidente Bashar al-Assad, com o qual um diálogo é cada vez mais evocado.[SAIBAMAIS]Na véspera da Assembleia Geral das Nações Unidas anual em Nova York, em que a guerra na Síria será uma das principais questões, a Rússia aumentou a pressão nesta quinta-feira (24/9) ao anunciar manobras militares navais no leste do Mediterrâneo. Manobras de "rotina", de acordo com o ministério da Defesa russo, mas que se somam a um crescente apoio militar da Rússia ao regime sírio, que recebeu aviões de combate e novas armas para lutar contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
Esta ajuda militar acompanha uma ofensiva diplomática do presidente Vladimir Putin, que irá defender na próxima semana em Nova York a criação contra o EI de uma grande coalizão internacional que inclua o regime de Assad. Estas ações militares e políticas obrigam os países ocidentais, divididos desde o início da guerra em 2011, a tentar encontrar uma posição comum.
Grã-Bretanha, França e Otan manifestaram nesta quinta-feira (24/9) sua "preocupação" com o recente reforço das capacidades militares russas na Síria. "A vontade dos russos é garantir suas posições históricas na Síria? Proteger Bashar al-Assad? Atacar o Daesh (sigla em árabe do EI)? Cabe à Rússia responder", declarou o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian. "Também estamos preocupados com a chegada de reforços russos na Síria", afirmou, por sua vez, seu colega britânico, Michael Fallon, considerando que os mesmos "só vão complicar ainda mais uma situação já difícil".
Diálogo com Assad
A Rússia deve "desempenhar um papel construtivo" e cooperar com os Estados Unidos na luta contra o EI, considerou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.
O chanceler francês, Laurent Fabius, reúne-se nesta quinta-feira à tarde em Paris com os seus colegas britânico, Philip Hammond, e alemão, Frank Walter Steinmeier, e a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em um jantar de trabalho dedicado à questão síria. "A ideia é esclarecer posições, saber o que pensam sobre uma transição política na Síria, estabelecer uma posição comum europeia perante a Assembleia Geral das Nações Unidas", indicaram fontes diplomáticas francesas.
Este encontro ocorre no dia seguinte às declarações da chanceler alemã, Angela Merkel, que considerou ser necessário conversar com Assad para resolver a crise. "Temos de falar com muitos atores, isso inclui Asad, mas também outros", disse Merkel citando a Rússia e o Irã, ambos aliados de Damasco.
Enquanto isso, o presidente francês, François Hollande, pediu uma "nova conferência" da ONU sobre a Síria, após as organizadas em junho de 2012 e fevereiro de 2014. A partida de Assad, por muito tempo considerada pelo Ocidente como uma pré-condição para negociações sobre a transição política, agora é evocada sem rodeios.
O secretário de Estado americano, John Kerry, e Philip Hammond estimaram em meados de setembro que Assad deveria partir, mas que o calendário é "negociável". "Enfrentamos um tal impasse que está claro que os ocidentais têm, de forma mais ou menos assumida, a vontade de sair dele, por qualquer meio, incluindo a reabilitação de Assad" acredita Myriam Benraad, pesquisadora do Centro francês de Pesquisas Internacionais (CERI).
No entanto, Benraad, assim como outros especialistas, acredita que a reabilitação do presidente sírio é "um erro", e não vai resolver nem os problemas dos refugiados nem a ameaça terrorista na Europa. Damasco comemora os últimos desenvolvimentos. Busaina Chaabane, conselheira de Assad, declarou que "o clima internacional atual está indo em direção a distensão e para a resolução da crise síria".
Na zona de combate, o exército sírio utilizou pela primeira vez drones fornecidos pela Rússia, e um alto funcionário sírio considerou que "o efeito das armas russas começa a ser sentido".