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Cresce polêmica entre o Irã e a Arábia Saudita após tragédia

Centenas de pessoas manifestaram neste domingo em frente à embaixada da Arábia Saudita em Teerã

Agência France-Presse
postado em 27/09/2015 12:20
Quatro dias após o tumulto que fez 769 vítimas durante a peregrinação à Mina, perto de Meca, o Irã, potência xiita no Oriente Médio, elevou o tom contra a sunita Arábia Saudita, que acusa Teerã de "politizar" a tragédia.

As relações entre Riad e Teerã, tensas desde o estabelecimento da República Islâmica em 1979, pioraram nos últimos anos, como resultado da crise síria, a guerra no Iêmen e, mais recentemente, o acordo nuclear concluído entre o Irã e as grandes potências.

A República Islâmica exigiu nestes domingo "desculpas" do reino saudita, depois de pedir em vão para participar da investigação do trágico tumulto que matou 769 peregrinos, dos quais pelo menos 155 iranianos, na quinta-feira.

Centenas de pessoas manifestaram neste domingo em frente à embaixada da Arábia Saudita em Teerã. Cerca de 400 manifestantes gritavam palavras hostis à família reinante dos Al-Saud em Riad, chamando-os de "traidores", constatou um jornalista da AFP.

Eles também lançaram tomates contra os muros da embaixada.

Respondendo às críticas de Teerã, o ministro das Relações Exteriores saudita, Adel Al Jubeir, respondeu no sábado que "os iranianos têm coisas melhores para fazer do que explorar politicamente uma tragédia que afetou pessoas que realizavam seus ritos religiosos mais sagrados".

No entanto, as autoridades sauditas ainda não forneceram resultados da investigação da tragédia, a mais grave ocorrida em um Hajj nos últimos 25 anos.

O drama ocorreu poucos dias depois da morte de mais de 100 peregrinos na queda de um guindaste na Grande Mesquita de Meca.

Jubeir declarou que Riad "prestaria contas dos fatos a medida que viessem a público".

"Não dissimularemos nada. Se foram cometidos erros, aqueles que os cometeram deverão ser responsabilizados", garantiu a repórteres em Nova York, na presença do secretário de Estado americano, John Kerry.

Enquanto as autoridades sauditas atribuem a tragédia, que ocorreu durante o ritual de apedrejamento de Satã, à falta de disciplina dos peregrinos, o grande mufti da Arábia Saudita, o xeque Abdel Aziz al-Sheikh, eximiu seu país de toda a responsabilidade. "A sorte e o destino são inevitáveis", disse ele.

No entanto, o Irã, que pagou o preço mais alto com seus 155 mortos, 45 feridos e 316 desaparecidos, questionou os sauditas pela organização do Hajj, que julgou deficiente, e denunciou sua falta de cooperação.

Os líderes sauditas "deveriam apresentar suas desculpas à comunidade islâmica e às famílias enlutadas", lançou o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, neste domingo em Teerã.

Enquanto isso, o presidente iraniano, Hassan Rohani, pediu às Nações Unidas para "lembrar o governo saudita de seus deveres" durante uma reunião em Nova York com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Na Turquia, um líder do partido conservador no poder propôs que seu país organize o Hajj, porque "os lugares santos do Islã pertencem a todos os muçulmanos". Na Arábia Saudita, crescem as vozes que denunciam uma suposta conspiração.

"É uma campanha de difamação contra a Arábia Saudita orquestrada por seus inimigos", escreveu o especialista Abu Rasheed Alsamh no jornal Arab News deste domingo, rejeitando como "ridículos" os pedidos de internacionalizar os lugares santos.

Para o analista saudita Abdullah al Otaibi, a ideia de "internacionalização do Hajj resume há anos a propaganda iraniana, rejeitada pelos muçulmanos", escreveu neste domingo no jornal Asharq Al Awsat.

Cerca de dois milhões de fieis, dos quais 1,4 milhão de estrangeiros, participaram do Hajj este ano, um dos cinco pilares do Islã que todo fiel deve cumprir pelo menos uma vez na vida se tiver condições.

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